"Até as flores são perfeitas." Esse é o tipo de comentário que ouvi em Wimbledon nesta semana. É difícil achar defeito no torneio de tênis mais tradicional do mundo. As hortênsias roxas são deslumbrantes e colorem o complexo. Os morangos com creme, sobremesa típica, são deliciosos. Milhares de pessoas circulam diariamente para assistir a jogos em 18 quadras, e a organização é praticamente impecável.
Quando chove (claro, é Londres) e é preciso interromper uma partida, todos esperam pacientemente. Voluntários, seguranças e atendentes são simpáticos e educados. Estar em Wimbledon é experiência tão única que muitos dormem na fila para tentar, no dia seguinte, comprar ingressos que sobram. Quem consegue uma entrada tem o privilégio de ver de perto os melhores tenistas do planeta.
Claro que, em tempos de guerra e pandemia, nem tudo é 100% habitual. Esta edição não tem russos e belarussos, banidos por causa da invasão da Rússia à Ucrânia. O número um do mundo no masculino, o russo Daniil Medvedev, não pôde competir.
Já Marin Cilic e o vice-campeão de 2021, Matteo Berrettini, nem estrearam porque tiveram teste positivo para Covid-19. Como Alexander Zverev se recupera de cirurgia e Rafael Nadal, com uma lesão crônica no pé, compete no sacrifício, o caminho está aberto para o sérvio Novak Djokovic tentar o sétimo título de Wimbledon na carreira.
Entre os brasileiros, Beatriz Haddad Maia chegou com prestígio à disputa de simples. No mês passado, a paulista de 26 anos venceu dois torneios de grama preparatórios, o WTA 250 de Nottingham e o de Birmingham, e avançou à semifinal do WTA 500 de Eastbourne. Mas Bia acabou caindo na estreia em Londres para a eslovena Kaja Juvan.
Coisas de Grand Slam. A eliminação precoce não apaga a campanha impressionante dos últimos meses que a colocou no top 30 do ranking mundial. Além dela, Bruno Soares, Marcelo Melo e Rafael Matos continuam no torneio com suas respectivas duplas. Bia e Bruno competem juntos nas duplas mistas.
Algumas estrelas já ficaram pelo caminho nesta primeira semana. Com quase 41 anos de idade e praticamente sem jogar desde junho do ano passado por lesão, a americana Serena Williams não resistiu a mais de três horas de partida contra a francesa Harmony Tan e foi eliminada na primeira rodada.
Na mesma quadra central, Andy Murray deu uma aula de imensa determinação. O ex-número um do mundo e bicampeão de Wimbledon em 2013 e 2016 sofre há anos com limitações físicas e perdeu na segunda rodada para o americano John Isner. O escocês de 35 anos deve jogar enquanto o corpo permitir, e, como uma aposentadoria sempre parece iminente, conseguir vê-lo em quadra é uma grande sorte para quem vem à competição.
O mesmo dá para dizer sobre Nadal, para grande tristeza dos fãs de tênis. Aos 36 anos, o espanhol saiu de Roland Garros de muletas determinado a disputar Wimbledon de qualquer forma. Eu o vi jogar nesta semana na arena principal. Ao derrotar o lituano Ricardas Berankis em uma partida que durou mais de três horas e ainda foi interrompida pela chuva, teve a humildade de dizer na entrevista em quadra que "todo dia é uma oportunidade para melhorar".
É triste, mas real, constatar que não sabemos até quando um dos maiores de todos os tempos permanecerá no circuito. Wimbledon termina no próximo dia 10 e é mesmo um torneio para ser admirado: de detalhes, como as flores, aos feitos dos grandes campeões.
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