Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Megaeventos devem ficar mais enxutos em nome da própria sobrevivência

Tendência é que disputa para sediar competições como os Jogos Olímpicos fique mais desigual

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Na quinta-feira (28), começa em Birmingham um dos maiores eventos esportivos do planeta. Nos Jogos da Comunidade Britânica, 6.000 atletas de 72 nações e territórios –muitos dos quais eram parte do antigo Império Britânico– competem a cada quatro anos em um evento visto por 1,5 bilhão de pessoas na TV ao redor do mundo. É como os Jogos Pan-americanos para nós, mas com Jamaica no atletismo, Austrália no vôlei de praia, Índia no críquete. A cerimônia de abertura não terá luxo nem será em uma arena ultramoderna. O palco é o Alexander Stadium, inaugurado em 1976.

O único local de competição permanente construído do zero foi o centro aquático da natação e saltos ornamentais. Esportes sem tradição na Inglaterra, como basquete 3 x 3 e vôlei de praia (e porque em Birmingham não tem praia) serão em arenas temporárias. O ciclismo de pista será em Londres. Não há motivo para erguer um novo velódromo na cidade-sede, mesmo no caso da Grã-Bretanha, que conquistou 72 medalhas olímpicas na modalidade, 30 de ouro.

Faz sentido. Primeiro, porque são Jogos feitos com dinheiro público com um orçamento que já é de 800 milhões de libras (R$ 5,24 bilhões). Sediar eventos esportivos incentiva o turismo, acelera investimentos no alto rendimento, em infraestrutura. Mas como justificar o gasto enquanto a população britânica sofre com o alto custo de vida?

Rougie Khanom carrega tocha dos Jogos da Comunidade Britânica - Paul Ellis - 4.jun.22/AFP

Segundo, porque este parece ser um caminho sem volta. Megaeventos estão mudando. "Right-sizing", ou ajustar ao tamanho apropriado, é um termo usado aqui. Não me refiro a torneios anuais, como Wimbledon, mas aos que ocorrem a cada ciclo, que dependem de apoio popular e têm gastos altíssimos.

Estou em Birmingham para a cobertura dos Jogos da Comunidade Britânica e, além de pensar em "Peaky Blinders" toda vez que ando na rua (fãs da série entenderão), sou lembrada a todo momento que a competição vai ser aqui –há pôsteres na cidade, clima pré-evento. Mas promover não significa esbanjar.

Falando de Jogos Olímpicos, projetos megalomaníacos como o de Pequim em 2008, que custaram o equivalente a R$ 220 bilhões, parecem inviáveis hoje –a não ser em nações autoritárias, onde seu governante vai gastar o quanto quiser sem te consultar. Na maioria dos países desenvolvidos, a opinião popular importa e autoridades vão encontrar resistência se quiserem organizar um grande evento e construir arenas que não terão uso depois. Com a oposição dos húngaros, Budapeste, por exemplo, desistiu de tentar receber as Olimpíadas de 2024.

Uma consequência disso é que o direito de sediar pode ficar mais desigual, indo para as mesmas cidades onde já existe infraestrutura esportiva ou há pouco a ser feito. Paris-2024, Los Angeles-2028, Brisbane-2032. Não acho que verei Jogos Olímpicos de novo na América do Sul (torço para estar errada). Como brasileira, é difícil ver estádios construídos para a Copa do Mundo de 2014 subutilizados ou tentar entender por que o velódromo do Rio-2016 que só deixou de "legado" milhões em custo de manutenção ainda está de pé.

Há exatos dez anos, Londres sediou as Olimpíadas, e mesmo aqui na Inglaterra há críticas a promessas não cumpridas e a como a nação multicultural mostrada na cerimônia de abertura hoje vive as consequências do Brexit.

Eventos como Jogos Olímpicos são inspiradores e transformadores, mas, para que sigam atraindo audiência, patrocínio, apoio, precisam se adaptar em nome da própria sobrevivência.

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