Mario Sergio Conti

Jornalista, é autor de "Notícias do Planalto".

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Mario Sergio Conti
Descrição de chapéu

Os mais vendidos em Favelândia

Em festa de raro esplendor, Aécio Montecchio, da Casa das Coxinhas, flerta com Gleisi Capuleto, da Mortadela

Ilustração Mario Sergio Conti
Bruna Barros/Folhapress

1º "Tira Esse Trem Daí, Sô". Sessenta anos depois da grande derrama de tutu, enfim se revela quem montou e pagou o lobby que convenceu os brasileiros (tolinhos!) que era uma boa criar a indústria automobilística, em detrimento de metrôs e ferrovias. Prefácio póstumo de JK.

2º "Cidade de Deus 2". Elsinho Maluco, Marcola e Micha Dedos Leves chefiam milícias e bondes do tráfico que disputam bocas de fumo no Rio. Disputam também mercado e poder Favelândia afora.

3º "Empreitada Empreendedora". Sessenta anos depois do vasto vazamento de tutu, se faz jus ao denodo da burguesia bugra em comprar o Estado e persuadir os brasileiros (bobocas!) a levar a capital para Goiás. Posfácio vivaldino de Niemeyer.

4º "Odalisca na Estrada de Damasco". Tudo, mas tudo mesmo, em minúcias de eriçar os pelos da nuca, sobre a conversão de Crivella à esbórnia momesca. A bandalheira começa na epígrafe: "A fé é a crença ilógica na ocorrência do impossível".

5º "Varões de Pinda". À la Plutarco, as vidas paralelas de Alckmin e seu cunhado Adhemar Ribeiro, de quem a Odebrecht diz ter molhado a mão com R$ 10 milhões, boa parte em espécie. Cobiça cívica, carolice sacripanta e marquetagem da caipirice pontuam a parábola. Prefácio, à luz da teoria da dependência, de FHC.

6º "Rainha Lira". Paródia patusca de "Rei Lear". A soberana reparte o reino entre Austéria, a filha neoliberal que come abelha, Glorinha, a progressista com casa em Miami, e Valentina, uma pobre diaba socialista que quer ver o povo de cabeça erguida. Posfácio fora do lugar de Roberto Schwarz.

7º "Boa Noite, Cinderela". Com exaltada pungência, é posta a nu a perfídia lulopetista —que rasgou, jogou no chão e sapateou nos ideais que pulsam no colo alabastrino de Marta Suplicy. Palitando os dentes num corcel ebúrneo, Sir Michel rapta a donzela feminista e a deita, deleitada, num leito de pétalas peemedebista.

8º "Zona de Conforto". História em quadrinhos na qual o Incrível Huck ressignifica "mundo cão" para "amor ao próximo", ao qual se dedica de corpo e alma em benefício próprio. No fim, salva o Brasil de si mesmo.

9º "Desculpe Qualquer Coisa: A História do PT". A organização interna do partido explica a submissão aos usos e costumes da alta roda papa-obras? Por que foi escassa a resistência à promiscuidade? Era, é, possível chegar ao Planalto sem apodrecer? Ou bem se responde ou não se vai adiante.

10º "Os Amantes de Verona". Aécio Montecchio, da Casa das Coxinhas, flerta numa festa de raro es-plendor com Gleisi Capuleto, da Casa da Mortadela. A orquestra toca valsas dolentes, ele a toma nos braços e saem dançando, ambos silentes. "Suicidar-se-ão?" indaga-se Mercúcio Temer, e roga uma praga: "Que a Lava Jato devaste as duas casas!".

11º "Anais Sino-Bolivarianos". A Academia Itamarateca de Etiqueta, dirigida pelo chofer de Marighella, elucida por que a Venezuela é uma ditadura que esguicha sangue e a China, uma democracia bonachã.

12º "Novo Medalhão". Casmurrinho herda bangalôs na Europa, França e Bahia, lavras de nióbio, incubadora de eventos, casa bancária e 111 mil servos. Cria instituto de boas maneiras, lota um estábulo com matemáticos —e se diz só um cara de classe média que gosta de picadinho. Escrito com o teclado da galhofa e o iPhone da melancolia.

13º "Meu Rei". Tesouro legado à nação pelo homem de propaganda Júlio Ribeiro. São 999 páginas que exaltam a titânica modéstia de Nizan Guanaes, o melhor publicitário do mundo de si próprio.

14º "Educação pela Pedra". Analogia entre casas e livros, via João Cabral: livros são casas amplas de janelas e portas abertas, por onde passa o pensar claro, livre. Mas a hora é de muros. Onde vidro, concreto. Onde tomos, tuítes. Onde vãos de abrir, opacos de fechar. Onde livros, resumos.

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