Mario Sergio Conti

Jornalista, é autor de "Notícias do Planalto".

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Um minidicionário biográfico do pandêmico pandemônio político

Como ficou de bom tom evitar encontros de mais de meia dúzia, Paulo Guedes perdeu sua plateia

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Ben Jor, Jorge. Gênio brasileiro. Devido à peste, o Copacabana Palace fechou as portas. Pela primeira vez em 97 anos o hotel está sem um único hóspede. Exceto Ben Jor, que mora ali. Sinal que o Brasil tem jeito, nem tudo está perdido.

Bolsonaro, Jair. Presidente da República e garoto-propaganda da cloroquina, conhecido no meio militar como Cavalão. Assim como Incitatus, Bucéfalo e Marengo, se notabilizou pela inteligência galopante.

C, FH. Estadista. Repetiu até enjoar que o PT montou um sistema de assalto ao Estado para beneficiar empresários e se manter no poder. Como era tudo verdade, até tremia de indignação com a roubalheira. Mas não notou, tolinho, que o PSDB montara décadas antes, em 1998, um esquemão bem mais eficaz.

Quem atestou isso foi a Ecovias. Sua delação premiada escancarou que o Tucanistão paulista fraudou contratos, desviou verbas e cacifou a eleição de Covas, Serra, Alckmin e de pencas de deputados. A empresa devolverá R$ 650 milhões do seu conluio com os novos bandeirantes. O PSDB, nada.

Ilustração de Jorge Ben Jor, Jair Bolsonaro com orelhas de burro e Fernando Henrique Cardoso
Bruna Barros

Cardoso, Fernando Henrique. Intelectual sestroso-dialético. O pandemônio adiou o livro no qual explicaria por que o PT foi demonizado, enquanto trombadões tucanos eram protegidos por Judiciário, Congresso e potências mediáticas. Seu título: “Uma questão de classe”.

Carvalho, Olavo de. Agente secreto da República Popular da China. Marxista cultural dissimulado, promoveu tal quizumba no lúmpen-bolsonarismo que ele ateou fogo às vestes, provocando a implantação do sino-lulopetismo no condomínio Vivendas da Barra.

Duarte, Regina. Primeira bruxa a confortar Macbozo. Distribuía sorrisos mimosos entre os miasmas da peste e, dengosa, declamava: “Mato porcão, masco ratão, engulo sapão, aspiro o pum do palhaço Mourão”.

Gibbon, Edward. Defendeu que figuras marginais expressam a verdade de uma era na hora da debacle. Assim, celebrou Marco Aurélio n’“A História do Declínio e Queda do Império Romano”, mas sublinhou que a casta dominante era vil como Cômodo, um tipinho destrutivo, supersticioso e vingativo. Vide Bolsonaro.

Gomes, Ciro. Duque de Sobral. Andava doido para ser o Macduff de Macbozo, mas nasceu de ventre de mulher e, o que é pior, em Pindamonhangaba.

Guedes, Paulo. Ideólogo de uma ideia só: ego. Como ficou de bom tom evitar encontros de mais de meia dúzia, perdeu sua plateia —dois assessores, um empresário, um gerente, um passante e a parasita que lhe servia cafezinho. Na clandestinidade, seguiu firme na defesa dos ricos e ociosos.

Hasselmann, Joice. Segunda bruxa. Jogou-se em cima de Macbozo para afogá-lo com lágrimas de crocodila. Mel é fel, fel é mel.

Jr., Neymar. Ponta de lança do time de celebridades bilionárias. Doou R$ 5 milhões às vítimas da Covid-19; seu salário no PSG é estimado em R$ 50 milhões; recebe R$3 milhões para pôr um post no Instagram.

Iscariotes, Judas. Traidor. O que farão Antonio Palocci e João Santana na Páscoa?

Kalil, Roberto. Autocognominado Médico dos Famosos. Foi infectado e medicou a si mesmo —afinal, é famoso por tabela. Tomou cloroquina e, como o remédio não foi testado, admitiu não saber se foi ele que o curou. Poderia ter recorrido a João de Deus.

Macbozo, Lady. Primeira-dama. Tempestade e trovões na charneca brasiliense. No palácio, Lady Macbozo vê o rei se acercar, qual uma enguia, de uma caixa com pílulas azuis. Lança o repto colérico:
“Nã, nã, nã nã, nã, Jair. Só quando der um golpe”.

Mandetta, Luiz Henrique. Ortopedista e trapezista. Dava piruetas conforme a música, mas preferia a sertaneja: fez lives com Marília Mendonça e Jorge e Mateus. Seu hit foi o xaxado sabujo “Quem Comanda Esse Time É o Presidente Bolsonaro”. Lançou a moda do colete. Não pegou.

Mascagni, Pietro. Compositor de segunda linha, excessivo e chegado a uma pieguice. Para piorar, fascista. Contudo, sua única ópera ainda representada, “Cavaleria Rusticana”, trilha-sonora da Páscoa, é extraordinária. O diabo é explicar por quê. Tem algo a ver com morte.

Amanhã, domingo da ressureição, Andrea Bocelli cantará uma ária da “Cavaleria” no Duomo de Milão, devidamente vazio. Haverá transmissão ao vivo pela internet. Pode ser umas. Ou então escutar a gravação com Maria Callas como Santuzza: “Inneggiamo, il Signor non è morto”.

Paschoal, Janaina. Terceira bruxa de Macbozo. Luz del Fuego da extrema direita, desconhecia a existência do pente. De olho numa futura boquinha, rogou uma praga contra o seu ídolo: “Tambor! Tambor! Eis Macbozo, o perdedor!”.

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