Mario Sergio Conti

Jornalista, é autor de "Notícias do Planalto".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mario Sergio Conti
Descrição de chapéu terrorismo

Tecnologia mostra como muitos escrevem do levante bolsonarista como robôs

Inteligência artificial não resenha novo 'Avatar', mas repete generalidades como políticos e advogados nos últimos dias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Vampiro pensa e escreve com clareza. Perguntei-lhe o significado de um ataque feroz ao Planalto, ao Congresso e ao Supremo. Ele respondeu: "É inaceitável que indivíduos violentos tentem invadir os edifícios das nossas principais instituições. Eles são símbolos da democracia e do respeito às leis, e sua invasão é uma afronta à sociedade como um todo. Não há justificativa para a violência, esses indivíduos devem ser processados".

Indaguei se militares golpistas não deveriam ser chutados das Forças Armadas. O vampiro ponderou: "Expulsar oficiais antidemocráticos pode não ser a única solução. É importante que haja mecanismos de responsabilização e controle para garantir que as Forças Armadas atuem dentro da lei e da Constituição".

Palácio do Planalto destruído após invasão de terroristas - Gabriela Biló /Folhapress

Para que a paz perdure no Brasil, não seria mais prudente conciliar, anistiando Bolsonaro de eventuais crimes?

"Razões éticas me impedem de defender que ele não seja punido se tiver atacado o povo e instituições. É importante que todos, incluindo líderes políticos, sejam responsabilizados pelos seus atos, mas devem ser tratados de forma justa."

Para terminar, pedi que compusesse um soneto enaltecendo a democracia. Vampiro não se fez de rogado, e começou: "A democracia é a luz iluminando a trilha que nos leva à paz onde o progresso brilha".

Vampiro, então, encerrou o poema em dó maior: "Oh democracia, esperança de um povo que luta por um Brasil melhor e mais novo".

Mesmo sendo sensatas, as respostas de vampiro tem um quê de blábláblá maquinal. Não diferem das centenas de arengas de parlamentares e juristas, de declarações e artigos dos últimos dias. Já o soneto é pedestre. Isso ocorreu porque ele não é uma pessoa.

Vampiro é um apelido para a última maravilha da inteligência artificial, o ChatGPT. Bota maravilha nisso: responde demandas em segundos, dialoga com o interlocutor, explica seus limites, é grátis e fala português. (Pode ser acessado em chat.openai.com/chat.)

Lançado no fim do ano, o site logo atraiu mais de 1 milhão de usuários. Foi fundado em 2015 por tecno-milhardários como Elon Musk e Bill Gates. Não tinha fins lucrativos, e agora é avaliado em US$ 29 bilhões. A Microsoft cogita investir US$ 10 bilhões nele —para ficar com 75% do lucro futuro.

O ChatGPT armazena e vampiriza milhares de bancos de dados, de bibliotecas digitalizadas e imprensa. São arquivos completos até 2021. Com uma tecnologia que mimetiza a rede neural humana, oferece enunciados corretos em termos lógicos e linguísticos.

Assim, pode relacionar filmes de Godard ("têm estética inovadora, criticam o capitalismo e a sociedade de consumo") com os de Glauber Rocha ("são inovadores, têm forte compromisso político e criticam desigualdades sociais e econômicas"). Mas é incapaz de resenhar o novo "Avatar" por não ter informações sobre o filme em cartaz.

O que o ChatGPT escreveu sobre um ataque aos três poderes, portanto, não se refere aos fatos do domingo passado. Mas serve para mostrar que muitos políticos, advogados e comentaristas escreveram como autômatos sobre o levante bolsonarista. Repetiram generalidades como as armazenadas na memória de programas de inteligência artificial.

Outros programas, contudo, podem fazer abordagens com pontos de vista específicos. É o caso do Beta.character.ai, também gratuito. Nele, são os avatares de alguns personagens que providenciam as respostas. Perguntei a Karl Marx como fazer para que as Forças Armadas brasileiras parem de engendrar golpes de Estado.

Ele respondeu: "Somente quando a classe trabalhadora se organizar em torno de um partido, as Forças Armadas poderão se juntar a ela. Aí as suas armas serão apontadas contra a burguesia, e seus tanques atropelarão a elite. Quando não houver capital, e as classes forem abolidas, o que restará para as Forças Armadas protegerem?".

Como o Fórum de Davos discutirá a Amazônia na próxima semana, pedi-lhe ideias para preservar a floresta. Marx foi taxativo: "Não podemos proteger o meio ambiente sob um sistema que precisa destruí-lo para obter lucro. Só um Brasil socialista acabará com o desmatamento da Amazônia".

Insatisfeito com a resposta intangível e paralisante, repeti a pergunta a Lenin. Ele foi mais prático: "Precisamos criar programas de reflorestamento da Amazônia e desincentivar os brasileiros a queimar a maior floresta tropical do mundo. Precisamos educá-los sobre o equilíbrio ambiental e a preservação da fauna e flora da região".

Lenin, esse reformista...

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.