Martin Wolf

Comentarista-chefe de economia no Financial Times, doutor em economia pela London School of Economics.

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Descrição de chapéu Financial Times

Por que eu quero outro Parlamento suspenso no Reino Unido

Resultado das eleições de 12 de dezembro poderá prejudicar irreparavelmente a Grã-Bretanha

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Por piores que as coisas estejam, elas quase sempre podem piorar. A vitória de fanáticos por uma porcentagem modesta de votos é muito provável no sistema eleitoral do Reino Unido, de quem chegar na frente vence, com vários partidos em competição.

Como os dois maiores partidos provavelmente serão um partido nacionalista inglês e um partido socialista de extrema-esquerda, o resultado das eleições de 12 de dezembro poderá prejudicar irreparavelmente a Grã-Bretanha.

Com a promoção entusiástica de Boris Johnson, atual primeiro-ministro, e a conivência de Jeremy Corbyn, o líder trabalhista, o país já está embarcando no dano autoinfligido conhecido como brexit. A última revisão econômica do Instituto Nacional afirma que a economia seria aproximadamente 2,5% maior hoje se o resultado do referendo de 2016 não fosse o 'sair'.

Esse desempenho, particularmente grave para uma economia já prejudicada pela crise financeira, deve-se em grande parte à fraqueza do investimento empresarial. De acordo com o Orçamento Verde do Instituto de Estudos Fiscais, "o investimento empresarial testemunhou o período mais longo de fraqueza fora de uma recessão, e hoje é o mais baixo do G7".

Uma explicação para a fraqueza do investimento é a incerteza sobre quando, como ou mesmo se o Reino Unido deixará a União Europeia. Alguns afirmarão que, exatamente por esse motivo, é essencial fazê-lo. Não é verdade: primeiro, o acordo obtido por Johnson é realmente ruim; segundo, não acabará com a incerteza, exatamente porque é ruim.

O artigo do Instituto Nacional argumenta que o impacto do acordo em longo prazo reduziria em 2,6% o PIB per capita real, em relação ao que seria em outra situação. Isso equivaleria à perda de dois a três anos de crescimento, mesmo sob premissas otimistas sobre o crescimento prospectivo da produção per capita.

A ideia de que um novo acordo comercial seria concluído até o final de 2020 também é uma fantasia. É provável que demore muitos anos, com mais penhascos ameaçando uma opção de "acordo sem comércio" ao longo do caminho. O Canadá e a UE levaram cinco anos para negociar seu acordo comercial.

Com o Reino Unido será mais difícil: a Grã-Bretanha é um parceiro comercial maior e, portanto, potencialmente mais perturbador que o Canadá; a desconfiança da UE em relação às intenções do Reino Unido é alta e, acima de tudo, a insistência do Reino Unido sobre o direito à divergência regulatória deve parecer uma declaração de guerra segundo seus próprios critérios.

Diante disso tudo, a incerteza sem dúvida continuará por muitos anos, a menos que o governo britânico declare um "não acordo" unilateral. Nesse caso, poderá haver certeza, mas por meio de uma solução terrível.

Como "fazer o negócio" rapidamente é uma fantasia, estou satisfeito por Johnson ter colocado seu acordo ruim no gelo para buscar a alternativa de uma eleição geral, mesmo que provavelmente ela seja terrível.

No entanto, o resultado parece depender de como os votos se dividirão. Hoje, parece provável que os conservadores terão uma parcela maior no voto pela Saída, às custas do partido do brexit, do que os trabalhistas ou os liberais-democratas receberão o voto pela permanência.

Atualmente, o site Electoral Calculus prevê uma parcela de 35% dos votos para os conservadores, 25% para os trabalhistas, 18% para os liberais-democratas e 11% para o partido do brexit. Ele acrescenta que há 52% de probabilidade de uma maioria conservadora, 11% de chances de uma maioria trabalhista e 37% de um Parlamento suspenso.

Esta última possibilidade é atraente. Nas encarnações atuais, eu não confiaria em que os conservadores (tories) ou os trabalhistas terão maioria: sob os conservadores, o Reino Unido obteria um brexit duro, uma incerteza prolongada e uma corrida regulatória até o final, o que provavelmente será acelerado por um acordo unilateral com os EUA; sob o Partido Trabalhista, o brexit seria mais suave, mas um governo que deseja retirar politicamente o Reino Unido do Ocidente (objetivo de Corbyn) e economicamente (de John McDonnell, chanceler na sombra).

Como pode um país dependente da confiança dos investidores globais sobreviver a um governo comprometido com a expropriação? O grupo de pensadores Policy Exchange é convincente sobre esses riscos.

No entanto, sob um parlamento suspenso, o Reino Unido poderia negociar um novo acordo e depois apresentá-lo à população para confirmação. As ideias mais tolas dos dois principais partidos também teriam de ser abandonadas. Após um fracasso tão sério, tanto os conservadores quanto os trabalhistas podem até pensar em se afastar de algumas de suas posições mais extremistas.

Eu rejeito o nacionalismo demagógico de Johnson e o coletivismo utópico de Corbyn, e rezo para que o eleitorado também o faça. Quero que os dois percam de tal forma que o centro mantenha o equilíbrio no Parlamento. Quero que o caminho para o Brexit seja reconsiderado. Isso vai acontecer? Temo que não. Mas temos direito à esperança, pelo menos. Se quisermos vencer, nenhum de nossos partidos deve fazê-lo.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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