Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Os vices generais

James Mattis e Santos Cruz ensaiaram um regresso ao debate público na semana passada

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O general americano James “cão louco” Mattis e o seu homólogo brasileiro Carlos “cara fechada” Alberto dos Santos Cruz toparam assumir cargos ministeriais depois de chegar ao mais alto nível da carreira militar.

Cada um do seu lado tentava minimizar o impacto da ascensão dos presidentes populistas Donald Trump e Jair Bolsonaro.
 
Respeitados pela vasta experiência no terreno —Mattis esteve no Afeganistão e no Iraque enquanto Santos Cruz liderou operações da ONU no Haiti e na República Democrática do Congo—, ambos são conhecidos pelo seu bom relacionamento com todo o establishment político. 
 
Talvez por essa razão, acabaram demitidos por presidentes que abominam a inteligência individual e desconfiam de aliados apreciados por rivais.

Ex-secretário de Defesa dos EUA James Mattis durante entrevista coletiva em Praga
Ex-secretário de Defesa dos EUA James Mattis durante entrevista coletiva em Praga - 28.out.2018 - Stringer / AFP

Os dois ensaiaram um regresso ao debate público na semana passada. James Mattis concedeu entrevistas e tirou sarro do seu ex-chefe num evento de caridade eminentemente político.

Santos Cruz também falou à imprensa e, numa série de manifestações nas redes sociais, insistiu em temas como união nacional e profissionalismo na diplomacia.
 
O timing das intervenções foi escolhido a dedo. Trump acabou de descobrir que a reação contra a retirada de tropas da Síria é uma ameaça mais grave ao seu mandato do que o escândalo ucraniano, na origem do processo de impeachment.

Dezembro passado, Mattis abandonou o cargo de Secretário de Defesa em desacordo com a estratégia de Trump para o Oriente Médio.
 
O derretimento da base parlamentar de Jair Bolsonaro nos obriga a reconhecer que, durante a sua passagem como ministro-chefe da Secretaria de Governo, Santos Cruz havia operado um milagre: fazer a turma do infantário do PSL se comportar como um grupo de deputados mais ou menos coeso.

O caos veio depois de Mattis e Santos Cruz. E eles tinham avisado que seria assim. Resta saber o que a dupla do “eu avisei” pretende fazer com o seu capital político.

Mattis seria um poderoso agente legitimador de um candidato da esquerda do Partido Democrata forte nas questões sociais, mas fraco nos temas de segurança, como Elizabeth Warren.

Santos Cruz seria o vice ideal de um candidato de centro-direita interessado em capturar os votos dos bolsonaristas não olavistas. A sua presença na chapa contribuiria para a fabulosa metamorfose de Luciano Huck de animador de palco a chefe de Estado.
 
Se eles entrarem na disputa eleitoral, Brasil e Estados Unidos estariam confirmando a sua aproximação a Israel, onde a disputa pelo título de premiê se resume a uma disputa entre altas patentes.

Uma tendência cada vez mais comum em países assolados pelos temas de segurança pública e internacional, por sinal cada vez mais inseparáveis.
 
Até na França, onde a separação entre civis e militares vem sendo respeitada desde Napoleão, um general, Pierre de Villiers, tem sido apontado como possível terceira via a Emmanuel Macron e Marine Le Pen.
 
A militarização da vida política é uma consequência inevitável da crise da democracia. Agora, os populistas podem acabar sendo expulsos pelas forças que eles ajudaram a empoderar.

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