Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mathias Alencastro

Twitter e Facebook alteraram a sua forma de intervir na política

Nova política de não-intervenção permite ao Facebook lavar as mãos de graves acusações

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Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que também controla o Whatsapp e Instagram, não apenas se disse preparado para combater os progressistas que tentarem impor novas regulamentações no setor, como também se reinventou como paladino de liberdade.

Doravante, o Facebook se recusará a restringir postagens de políticos que violem as regras básicas de civilidade, o que equivale a um apelo velado à calúnia e à mentira.

Jack Dorsey optou por um caminho diferente.

Contornando o inextricável debate sobre a liberdade de expressão, o patrão do Twitter anunciou o abandono do sistema de impulsionamento pago para todas as mensagens políticas. Uma medida difícil de ser implementada, mas com potencial para ser revolucionária. Em tese, ela pode impedir a organização de campanhas de fake news com o nível de agressividade visto durante as eleições no Brasil.

O momento para anunciar essas medidas-chave foi escolhido a dedo. Dez anos atrás, em plena Primavera Árabe, o advento das redes sociais era celebrado como um fator decisivo para a liberalização e democratização da esfera pública. As situações insurrecionais continuam se espalhando e chegaram recentemente a Espanha, Hong Kong e Chile, mas as redes sociais passaram a ser vistas como vilãs. Elas facilitaram a ascensão de movimentos extremistas que passaram a pautar as narrativas nacionais e globais.

 

Em consequência, o Vale do Silício deixou de ser visto como a bolha progressista do capitalismo, e os seus executivos como jovens idealistas angustiados com as implicações éticas dos seus negócios. As deteriorações das maiores democracias do mundo obrigaram Mark Zuckerberg e Jack Dorsey a deixarem cair a máscara da inocência.

Mas ao contrário de Dorsey, que parece disposto a tentar mitigar os riscos inerentes ao Twitter, Zuckerberg vestiu a máscara do cinismo e se assumiu como um plutocrata. Especializado na drenagem de recursos de outras indústrias, o seu grupo se tornou extrativista, rentista e monopolista na sua essência.

A nova política de não-intervencionismo permite ao Facebook lavar as mãos das graves acusações e conferir um tipo de imunidade para aqueles que a empresa diz combater, mas que, na realidade, foram indispensáveis para o seu sucesso: os radicais, os demagogos e os populistas.

Nos dias que correm, debater a qualidade da democracia no Facebook equivale a discutir o excesso de álcool na sociedade dentro de um bar.

Verdadeira ameaça existencial para as democracias liberais, o Facebook estará no centro do debate político no próximo ano. Se Donald Trump ou algum outro defensor do laissez-faire nas redes sociais vencer a eleição de 2020, a decomposição da esfera pública tenderá a continuar e até se aprofundar. 

Para sobreviver, os democratas americanos do século 21 terão de superar os barões dos dados, tal como os seus predecessores venceram os magnatas da Standard Oil, o império petrolífero desmantelado no começo do século 20.

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