Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Trump e os republicanos estão na lona

Partido terá que enfrentar os próximos dias de campanha sem estratégia coerente

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O surto de coronavírus que virou o mundo de ponta-cabeça não atingiu apenas o presidente Donald Trump, a primeira-dama, Melania Trump, e um grupo de conselheiros da Casa Branca.

Bill Stepien, diretor de campanha, e Ronna McDaniel, presidente do Partido Republicano, também tiveram testes positivos. Muitos outros estão em isolamento e podem confirmar o diagnóstico a qualquer momento.

Esse acontecimento sistêmico nada tem a ver com os dramas individuais e os problemas de saúde de Jair Bolsonaro e Boris Johnson.

O presidente dos EUA, Donald Trump, na suíte do hospital em que recebe tratamento para coronavírus - Joyce N. Boghosian/Casa Branca - 3.out.20/AFP

Minimizar, ou até teorizar sobre um possível benefício desse incidente épico, é desconhecer por completo a dinâmica eleitoral dos Estados Unidos.

A campanha funciona como um cassino em que os candidatos precisam jogar em permanência, arrecadando fundos na sexta para poder financiar propaganda eleitoral na segunda-feira. A evolução das contas de campanha é um indicador tão importante para um partido quanto a tendência das sondagens.

Do dia para a noite, dezenas de candidatos ao Senado perderam contato com os seus generais e terão de enfrentar os próximos dias da campanha sem uma estratégia partidária coerente, centralizada e coordenada. Eventos e discursos terão de ser calibrados em função da evolução do quadro de saúde dos figurões do partido.

Uma desgraça para uma sigla que estava a dias de atingir objetivos traçados 40 anos atrás. A geração atual no comando do Partido Republicano despontou nos anos 1980 com a eleição triunfal de Ronald Reagan.

Como retratado no livro de Rick Perlstein, "Reagaland", ela institui a cultura do mata ou morre na política americana, com táticas de guerrilhas, como dificultar o voto das minorias, e estratégias de vanguarda, como a captura ideológica da Suprema Corte.

Uma operação lançada com a indicação de Antonin Scalia em 1986 e prestes a ser terminada com a nomeação de sua herdeira intelectual, Amy Coney Barrett. Ironicamente, o surto que começou na cerimônia de oficialização do seu nome no jardim da Casa Branca a 26 de setembro pode arruinar tudo.

Três membros do comitê judiciário do Senado, presentes na cerimônia, já anunciaram terem contraído a doença. Outros tantos estiveram presentes no fatídico evento de sábado passado.

A ausência forçada de dois senadores obrigaria o líder do Partido Republicano, Mitch McConnell, a postergar o voto de confirmação no Senado, agendado para o final de outubro.

Tentativas desesperadas de organizar atos de campanha e votações no Senado em pleno surto podem comprometer a imagem do Partido Republicano. Sondagens indicam que o eleitorado está exasperado com a atitude de Donald Trump face ao vírus.

Em sondagem publicada neste domingo, 65% concordam que o presidente poderia ter evitado o vírus se tivesse agido responsavelmente. Especialmente importante, outra sondagem mostrou Joseph Biden liderando por 27 pontos entre os eleitores com mais de 65 anos, indispensáveis para os republicanos.

Os próximos dias serão dinâmicos, e a mais importante eleição dos nossos tempos está oficialmente dependente da evolução do metabolismo de um punhado de seres humanos.

Mas o retrato de hoje é o de um cenário de acidente industrial para o Partido Republicano.

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