Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mathias Alencastro
Descrição de chapéu Eleições 2020

A revolução Boulos

Candidato se impõe como líder incontestável do campo progressista em SP

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A campanha de Guilherme Boulos em São Paulo articula-se em torno de três grandes orientações: a construção da única candidatura de contestação nacional na principal capital do país, a introdução de novos desafios sociais no debate público, a começar pela luta dos trabalhadores precários, e a superação da fratura entre centro e periferia, inutilmente alimentada pelos petistas.

Para construir esse projeto, Boulos recorreu a instrumentos e conceitos inovadores. Antes de se aventurar na política eleitoral, ele circulou pela Europa para tentar entender melhor formações como a França Insubmissa, o espanhol Podemos e o português Bloco de Esquerda.

 O candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) vota na PUC, na zona oeste da capital
O candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) vota na PUC, na zona oeste da capital - Danilo Verpa/Folhapress

Inspirada nessa nova esquerda europeia, acostumada ao confronto direto com a extrema direita, sua campanha é responsável pela primeira tentativa concreta dos progressistas de confrontar o domínio nas redes pelos conservadores.

Boulos chegou a investir em redutos obscuros e completamente desconhecidos dos políticos tradicionais, como os fóruns frequentados por jovens na internet, um criadouro de militantes bolsonaristas.

Com 20% dos votos deste domingo (15) e uma reserva de eleitores nas candidaturas de Márcio França e Jilmar Tatto, Boulos tem chances de vitória, mas deve-se constatar que o seu principal objetivo já foi atingido: impor-se como o líder incontestável de todo o campo progressista na cidade de São Paulo.

Um objetivo facilitado pela calamitosa campanha de Jilmar Tatto, prontamente enterrada por Lula no dia do pleito. O segundo turno contra Bruno Covas, que será tentado pela sua base aliada a flertar com o extremismo para resgatar o eleitor bolsonarista, tem tudo para ajudar a consolidar o novo estatuto de Boulos.

A importância desse fato político na formação dos projetos nacionais de 2022 não deve ser subestimada.

Em editorial recente, esta Folha sugeriu que a vitória de Joseph Biden nas presidenciais norte-americanas tem, como principal consequência, o despertar de um “senso de urgência acerca da necessidade de algum tipo de união contra Bolsonaro e a esquerda”.

Essa afirmação sugere uma interpretação inexata da campanha norte-americana. O talento de Biden, um centrista nato, está na sua capacidade de incorporar as agendas da esquerda no seu projeto político para derrotar a extrema direita.

O Partido Democrata deve à sua ala esquerda as grandes manifestações realizadas contra Donald Trump, a popularização de alternativas programáticas na agenda ambiental e, sobretudo, a mobilização de jovens eleitores durante a campanha.

Para citar apenas um exemplo, sem a atuação de Stacey Abrams, o democrata nunca teria chegado perto de vencer a Geórgia.

Quem quiser tentar repetir a vitoriosa operação centrista de Biden no Brasil terá de combinar primeiro com Boulos.

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