Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Para Baleia Rossi, defesa da democracia não se aplica às redes sociais

Candidato de Rodrigo Maia sinaliza ao governo Bolsonaro que Brasília será uma ilha de paz para as fake news

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A invasão do Congresso americano entrará na história como um ataque às instituições do poder real por hordas de vândalos criadas no mundo virtual e organizadas pela figura mais poderosa da história da internet.

Do “cidadão de bem” brasileiro ao islamofóbico da Nova Zelândia, passando pelo etnonacionalista russo, todas as tribos do extremismo orbitavam em torno da conta de Donald Trump.

A expulsão sumária de Donald Trump das redes sociais coloca um ponto final no seu mandato. Os EUA saem tão tensionados desse processo que a cerimônia de posse de Joseph Biden, que já tinha muitas restrições devido à pandemia, terá mais segurança que um desfile militar na Coreia do Norte.

A medida radical não é suficiente para limpar a ficha das grandes plataformas como Google, Facebook, Amazon e Twitter. Durante anos, todas essas empresas optaram por legitimar e proteger atos infames em nome de um ideal corrompido de liberdade de expressão.

É sempre importante lembrar que um dos mais prescientes testemunhos globais da violência no mundo virtual foi produzido por Patrícia Campos Mello, uma repórter deste jornal.

Confrotados com um episódio de grande violência simbólica, os capitães da indústria decidiram encerrar a primeira era da internet para impedir que a classe política tente recuperar a iniciativa.

De fato, Elizabeth Warren, que emplacou uma das suas principais conselheiras no governo Biden, trata o desmantelamento dos gigantes da internet como um evento histórico de importância equivalente ao fim do oligopólio da indústria do petróleo no começo do século 20.

Uma estratégia defendida há anos pela União Europeia, preocupada com o impacto político e fiscal dos grupos norte-americanos. A cabeça de Trump numa bandeja é uma oferenda de paz dos capitalistas da tecnologia aos novos tecnocratas das democracias liberais.

A discussão sobre um novo modelo de governança da internet vai muito além dos aspectos técnicos e legais. Trata-se de criar uma esfera pública compatível com a nova realidade virtual e superar o modelo falsamente libertário idealizado por Mark Zuckerberg sem cair na armadilha dos sistemas autoritários adotados na China e na Rússia.

O deputado Baleia Rossi, candidato à Presidência da Câmara dos Deputados, durante entrevista em Brasília
O deputado Baleia Rossi, candidato à Presidência da Câmara dos Deputados, durante entrevista em Brasília - Pedro Ladeira - 7.jan.21/Folhapress

Com o Marco Civil da Internet, o Brasil tem um instrumento privilegiado para enfrentar esse desafio.

Resta saber se a classe política vai aceitar uma mudança de cultura que pode alterar os seus cálculos eleitorais. Em entrevista a este jornal, Baleia Rossi deixou claro que pretende proteger os interesses estabelecidos.

O candidato da “frente ampla” à Presidência da Câmara admitiu debater a fantasia do “voto impresso”, uma causa disseminada pelo bolsonarismo com o objetivo de sabotar o processo eleitoral e repetir em 2022 a ofensiva contra a democracia ensinada por Trump.

Assim, Rossi sinaliza ao governo Jair Bolsonaro, inquieto com o fim brutal da Presidência Trump, que Brasília será uma ilha de paz e tranquilidade para as fake news.

Para o candidato de Rodrigo Maia, a defesa da democracia não se aplica às redes sociais.

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