Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mathias Alencastro
Descrição de chapéu União Europeia

Eleição embolada pode deixar Alemanha à deriva por meses

Presença inédita de três partidos na liderança das pesquisas aumenta o número de coalizões possíveis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A mais recente sondagem da eleição federal na Alemanha, que será realizada em 26 de setembro, deixou a Europa angustiada. O candidato conservador Armin Laschet, da CDU de Angela Merkel, despencou de 30% para 21% no espaço de um mês, ficando atrás da SPD, que chegou a 24%, e perto dos Verdes, que alcançaram 17%.

A presença inédita de três partidos na linha de chegada aumenta o número de coalizões possíveis. As negociações para a formação do governo se anunciam complexas e podem deixar a Alemanha à deriva por meses.

Os três principais candidatos à sucessão de Angela Merkel: Annalena Baerbock (Verdes), Armin Laschet (CDU), de costas, e Olaf Scholz (SPD)
Os três principais candidatos à sucessão de Angela Merkel: Annalena Baerbock (Verdes), Armin Laschet (CDU), de costas, e Olaf Scholz (SPD) - Michael Kappeler/AFP

A queda súbita da CDU não é imputável ao governo, aprovado por 84% da população depois de 17 anos. Merkel mudou a natureza do cargo, a ponto de os candidatos masculinos se referirem à posição de chanceler no feminino para sinalizar o seu compromisso com a continuidade.

Foi a ausência de um sucessor ou de uma sucessora incontestável que provocou a dispersão de seu capital político entre os diferentes candidatos. Laschet nunca conseguiu se livrar da sua imagem de diletante, que mal consegue ensaiar um comportamento de estadista nos momentos trágicos, como nas recentes inundações.

O contraste com Laschet beneficiou Olaf Scholz, ministro da Economia do atual governo de coalização. Experiente, ele acabou herdando o amuleto da austeridade fiscal, tão caro aos alemães, apesar de representar uma formação de centro-esquerda, a SPD.

Restam os Verdes, que parecem incapazes de passar do teto de 20% nas sondagens malgrado os ventos favoráveis. Acusada de plágio num livro recém-lançado, a sua candidata Annalena Baerbock não conseguiu se impor como alternativa a um dos governos que mais avançaram na luta contra a emergência climática na Europa: a meta para redução de emissões de gases de efeito estufa da Alemanha, de 65% até 2030, é a mais alta do bloco europeu.

lá fora

Receba toda quinta um resumo das principais notícias internacionais no seu email

A inconsistência dos candidatos é insuficiente para explicar a dinâmica errática de eleição. O nível da campanha está abaixo do esperado para um país com os desafios da Alemanha. Seu modelo econômico baseado na exportação de produtos industrializados está ameaçado pela dependência de suas multinacionais no mercado chinês.

As pressões populistas contra os fluxos migratórios, indispensáveis para equilibrar a pirâmide da idade, atingida pela baixa natalidade alemã, estão provocando um estrangulamento demográfico. Berlim também precisa aprender a lidar com o novo momento geopolítico, entre recuo dos Estados Unidos e pressão da Rússia sobre os sistemas políticos europeus.

Como outros países industrializados, a Alemanha precisa resolver sua crise de identidade para continuar sendo relevante economicamente.

Vale sublinhar que todas essas angústias vêm de longe. Em 2005, Merkel recuperou uma Alemanha apresentada pela revista Economist como o “Homem doente da Europa”. Quatro mandatos mais tarde, depois de uma crise financeira e de uma pandemia, a Alemanha é a líder incontestável da Europa.

Os extremistas da AfD continuam a uma distância segura do governo federal. O acolhimento de 1 milhão de migrantes em 2015 mudou o paradigma da política de refugiados no mundo desenvolvido. Tanto na Alemanha como na França, a competição intensa das próximas eleições não deve servir de motivo para repetir os sonolentos chavões sobre o suposto colapso iminente das democracias europeias.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.