Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Descrição de chapéu União Europeia

Vida real da campanha de Zemmour na França começa com constrangimento e tensão

Polemista guarda semelhanças com outras figuras da direita que incluem Sergio Moro no Brasil

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A prévia da direita tradicional francesa conheceu seu desenlace no último sábado (4) com a vitória de Valérie Pécresse, ex-ministra de Nicolas Sarkozy e presidente da região de Île de France, que engloba a cidade de Paris.

Ao contrário da calamitosa experiência do PSDB, a prévia dos Republicanos, alvo de muitos protestos e piadas, terminou dentro dos prazos e sem ocorrências técnicas ou gritaria nos bastidores.

Pécresse não é uma figura de primeira linha, e dúvidas persistem sobre sua competitividade. Mas a candidatura, nitidamente mais moderada do que as outras, demarca o espaço da direita tradicional em relação às outras direitas que disputam a Presidência.

À imagem do vencedor da prévia tucana João Doria, que tem de viver na sombra de Sergio Moro, Pécresse —primeira mulher a disputar a Presidência pelo partido de Charles de Gaulle— foi ofuscada pelas luzes do novo astro do campo conservador, Eric Zemmour, que realizou o seu primeiro comício neste domingo (5) na arena Zénith Paris.

Personagens cujo carisma é inversamente proporcional à paixão que despertam, Moro e Zemmour disputam a mesma posição dentro do campo conservador de seus respectivos países. Munidos de um discurso dogmático e sebastianista, que demoniza uma parte da população por motivos étnicos, no caso do francês, ou ideológicos, no caso do ex-juiz brasileiro, eles buscam recuperar os eleitores desiludidos com a extrema direita e saquear o que resta do capital político da direita tradicional.

Zemmour e Moro são candidaturas-sintomas da crise sistêmica que atravessa o campo conservador doravante fraturado em linhagens distintas.

Para o francês, os problemas começaram mais cedo do que o previsto. A primeira tentativa de sair da zona de conforto da televisão e das redes sociais redundou em momentos de constrangimento e tensão. Em Londres, Zemmour, que ambicionava repetir o roteiro glorioso de Charles de Gaulle durante o exílio da Segunda Guerra Mundial, visitando o Parlamento e a sede da BBC, acabou relegado a um hotel de beira da estrada e a uma entrevista com a imprensa da direita radical.

De volta à França, partiu para Marselha, cidade emblemática do multiculturalismo, que ele descreve como um cartão-postal de um funesto futuro se nada for feito para travar a migração de muçulmanos. A visita terminou com insultos, garrafadas e um momento de desequilíbrio —Zemmour mostrou o dedo do meio a uma mulher— que feriu a imagem de único homem capaz de moralizar a França.

Ainda é cedo para antecipar qual será o ritmo da campanha de Sergio Moro. Informações contraditórias circulam sobre seu real potencial eleitoral. A candidatura de Zemmour, sem partido nem financiamento organizado, padece de problemas estruturais que já foram superados pelo ex-juiz brasileiro.

O candidato presidencial francês Eric Zemmour discursa em evento em Paris neste domingo (5) - Julien de Rosa - 5.dez.21/AFP

Mas as últimas semanas do francês mostraram que a aterrissagem na vida real de campanhas criadas no universo audiovisual é imprevisível. Um mês atrás, quando escrevi sobre o francês para a Ilustríssima, meus interlocutores juravam que Zemmour estaria no segundo turno com Emmanuel Macron. Hoje, as mesmas pessoas avaliam que ele não passa de uma febre passageira.

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