Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Descrição de chapéu tecnologia

Ciência e inovação podem mudar rumos do país, mas precisam parar de regredir

Ou nos esforçamos para entrar em sintonia com novas tecnologias ou ficaremos marcados pela irrelevância

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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas refletem sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Glauco Arbix, professor titular de sociologia da USP e ex-presidente do Ipea e da Finep.

A pandemia acentuou tendências latentes em nosso cotidiano, alavancadas pela inflação, a guerra, o desemprego e a retração da economia. Mas não há como camuflar a responsabilidade do governo federal pelas agruras da sociedade e a agressão à educação e à ciência brasileiras.

Sua atuação errática acuou cientistas, esvaziou agências de fomento, minou universidades, cortou verbas. Na contracorrente do mundo, além de retardar o trânsito para uma sociedade sustentável, o Brasil ficou cada vez mais distante dos países tecnologicamente mais avançados. Ou nos esforçamos para entrar em sintonia com as novas tecnologias ou ficaremos marcados pela irrelevância.

Homem passa por grafite do artista Guiles no bairro da Barra Funda, em São Paulo, que criticava gestão da ciência no governo Bolsonaro - Karime Xavier - 7.jul.20/Folhapress

A dinâmica atual das novas tecnologias digitais, com destaque para a inteligência artificial, é tão poderosa que modifica o metabolismo da indústria de transformação, dos serviços, da agricultura e do comércio. Mas sua difusão é absorvida de modo desigual, seja pelos países, seja pelas pessoas.

A procura pelos mais qualificados no mercado de trabalho aumenta as desigualdades; as empresas e a pesquisa científica perdem dinamismo e a infraestrutura e a economia envelhecem rápido. A baixa qualidade do sistema educacional é ainda mais exacerbada diante do número cada vez maior de pessoas deixadas para trás.

Os ciclos tecnológicos disruptivos marcam os países em desenvolvimento com atrasos assimétricos. Promovem mudanças na infraestrutura e nos padrões de consumo, mas não conseguem impulsionar mudanças nas estruturas da economia, que exigiriam um esforço articulado entre o setor público e privado, as empresas, as universidades e o governo. O mundo mudou e a interdependência é a regra.

A ciência, sabemos, não respeita fronteiras. Por onde avançar?

Antes de mais nada, é preciso interromper a regressão atual do sistema de CT&I. Segundo, é importante reconhecer que as novas tecnologias se baseiam na valorização do capital humano: não há como absorver, adaptar e desenvolver tecnologias sem pessoas qualificadas.

Terceiro, as tecnologias inovadoras abrem possibilidades imensas, mas pedem ambientes propícios a sua absorção e desenvolvimento, o oposto do ambiente tóxico atual. Quarto, é fundamental defender nossas florestas e toda a população e etnias que vivem delas e ajudam a mantê-las. O respeito ao meio ambiente deve ser parte integrante do esforço pelo desenvolvimento.

Não há mágica, claro. Mas o nível alcançado pela CT&I permite que o Brasil contribua mais ainda para elevar a expectativa de vida das pessoas e recuperar sua posição de vanguarda na luta contra os efeitos das mudanças climáticas, pela biodiversidade e por fontes limpas de energia, pela produção de alimentos e o uso da terra, fundamentais para diminuir a pobreza, as desigualdades e a geração de empregos.

Se é verdade que o Brasil não está fadado ao fracasso, é mais do que certo que é preciso mudar de rumo. A ciência brasileira já mostrou ter condições de renovar seu compromisso com a sociedade e disposição para se articular com todos os que buscam um lugar de relevo para o país.

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