Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mathias Alencastro

A era André Janones

Deputado é a primeira personalidade das redes a assumir a comunicação digital de uma campanha

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A entrada messiânica de André Janones na campanha de Lula diz muito sobre o desafio histórico dos grandes partidos tradicionais em se adaptar ao mundo das redes sociais. Todavia, Janones, além de ser um recrutamento importante, também é um personagem novo na história da comunicação digital. Esta teve como protagonistas engenheiros, magos e delinquentes, mas nunca um influencer.

O ex-presidente Lula abraça André Janones, que se uniu à campanha do petista - Rivaldo Gomes/Folhapress

Quando Robby Mook assumiu a comunicação digital de Hillary Clinton em 2016, muitos ainda acreditavam que as redes sociais poderiam ajudar a ampliar e consolidar as democracias, no esteio das campanhas de Obama. A sua derrota para Steve Bannon, o estrategista de Donald Trump, revelou ao mundo todo o potencial nefasto dessa nova infraestrutura. A militância digital idealizada por Carlos Bolsonaro é apenas a face mais conhecida de dezenas de experimentos de subversão democrática que alimentam a violência religiosa, étnica e política no mundo inteiro com a cumplicidade passiva dos grandes grupos tecnológicos.

Em 2017, Emmanuel Macron deu indicações de que era possível conter Marine Le Pen com uma comunicação digital republicana e impedir que outros países europeus seguissem o caminho da Itália, capturada pelo Movimento 5 Estrelas, criado do zero por um programador, Gianroberto Casaleggio, e um blogueiro, Beppe Grillo. Os mais atentos se lembrarão que o estrategista de Macron, Guillaume Liegey, desfilou por São Paulo em 2017 como o salvador que tiraria a terceira via do papel.

Outros políticos moderados, como Joe Biden, preferiram ficar longe das redes sociais, optando por reforçar a comunicação tradicional e apostar nas rádios locais. No final, foram os movimentos mais à esquerda, inspirados pelo espanhol Podemos, de Pablo Iglesias, que tentaram desenvolver um modelo alternativo de comunicação digital. A campanha municipal de Guilherme Boulos em 2020 mostrou que era possível criar um universo progressista nas redes brasileiras.

O deputado federal André Janones (Avente-MG)
O deputado federalAndré Janones (Avente-MG), diante do Congresso Nacional - Divulgação

Bannon, Mook, Casaleggio, Bolsonaro e Liegey partilhavam a ambição de comandar por fora as redes, enquanto Janones é uma criação das interações dessas redes. Ao contrário de todos eles, a sua legitimidade como ator político deriva do sucesso do seu próprio personagem digital.

O primeiro teste de Janones vai definir o resto da sua carreira e, possivelmente, o destino da eleição. A sua missão é impedir que a militância digital bolsonarista transforme os benefícios do auxílio em votos para Jair Bolsonaro. Com a ameaça de dar um golpe no 7 de Setembro, o presidente tenta estruturar a campanha entre duas realidades —a luta pela democracia e a economia real— que não dialogam com o mesmo eleitorado. Foi exatamente dessa forma, posicionando-se como a defensora do poder de compra contra um presidente obcecado pela "defesa dos valores democráticos" na Guerra da Ucrânia, que Le Pen ameaçou a reeleição de Macron em 2022. As próximas semanas dirão se Janones vai conquistar um lugar na história da comunicação digital.

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