Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Mathias Alencastro

Terceira vitória de Lula é mandato global

Reconhecimento internacional será decisivo para consolidar novo governo de petista

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A polêmica sobre a ação da Polícia Rodoviária Federal foi apenas o último episódio de uma eleição desastrosa, marcada pelo colapso do debate público e pela explosão da violência política.

Nesse ambiente, a vitória (por margem apertada) de Lula na eleição é o começo de um longo processo de transição de governo.

A próxima etapa será a corrida pelo reconhecimento internacional. Antigamente uma mera formalidade, esta etapa se tornou um elemento essencial do processo de assentamento do poder na era da crise das democracias. Tudo indica que o reconhecimento da vitória de Lula por entidades nacionais e multilaterais será realizado em tempo recorde.

Lula vota na escola João Firmino, em Sao Bernardo do Campo - Marlene Bergamo -30.out.22/Folhapress

Na Europa e nas Américas, chefes de Estado já se comprometeram a agir rapidamente, jogando no limite dos protocolos diplomáticos.

Numa sucessão de gestos de engajamento sem precedentes, Washington enviou o secretário de Defesa a Brasília em agosto, aprovou uma resolução em defesa da democracia no Brasil no Senado e, na semana passada, ventilou a possibilidade de indicar Jack Sullivan, uma das mais altas patentes do Estado, para acompanhar a transição em Brasília.

Os chefes de governo de Portugal e Espanha foram ainda mais longe e assumiram o risco de declarar apoio a Lula na reta final da campanha, e a União Europeia manifestou em diversas ocasiões o seu compromisso com o processo eleitoral brasileiro.

Essa decisão foi atestada pelo deslocamento de um sem-número de deputados europeus ao Brasil no segundo turno. Os últimos dias deixaram evidente que a preservação da democracia brasileira é uma questão de sobrevivência para as democracias do mundo inteiro.

Embora gigantescos, os desafios do terceiro mandato de Lula não são inteiramente diferentes dos obstáculos enfrentados por outras lideranças democráticas.

Joseph Biden e Emmanuel Macron também tiveram que lidar com cenários novos quando derrotaram a ultradireita em 2020 e 2022. O americano, à imagem de Lula, tem como principal ativo a experiência de lidar com o Congresso e a legitimidade, derivada das crises sanitária e climáticas, para reposicionar o Estado na sociedade.

O presidente eleito brasileiro carrega, no entanto, duas vantagens decisivas. Em nível doméstico, a disputa do segundo turno abriu o caminho para a construção da aliança necessária para governar um país em deriva autoritária.

Num cenário internacional arruinado pela onda populista e pela falência partidária, Lula tem a seu favor a conjuntura e a legitimidade para posicionar o Brasil como um ator central. Com algumas raras e notáveis exceções, como Nelson Mandela, os países do Sul Global jamais elegeram um presidente com tanta autoridade para pesar na governança global.

Não é por acaso que o seu primeiro ato de campanha foi uma quase-visita de Estado a Paris no ano passado.

Estava claro que a geopolítica e a política climática seriam fundamentais para acalmar a contestação da extrema direita e consolidar a governabilidade.

Se existe uma certeza sobre o terceiro mandato de Lula, é que ele será global.

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