Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor
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Intervenção no Rio abre espaço para uma diplomacia antitráfico

Medida põe na agenda pública o mais imediato desafio internacional do Brasil

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A intervenção federal no Rio de Janeiro em nada reduzirá a força do narcotráfico e do crime organizado. Politiqueira, a manobra é mais um ato no circo deste ano eleitoral. Ela tem, contudo, a virtude de colocar na agenda pública o mais imediato desafio internacional do Brasil: a luta contra o crime organizado transnacional.

No caso brasileiro, o narcotráfico é um empreendimento global. Do negócio da droga ao negócio das armas, da ocupação de prisões pelas gangues à ocupação de comunidades pela máfia, a criminalidade no país é indissociável de suas redes na América do Sul, em países da África, da Europa e nos Estados Unidos.

Embora o cidadão brasileiro não perceba, a insegurança espalhada pelas grandes capitais e por cidades do interior, assim como o sofrimento das 60 mil famílias de brasileiros que amargam um homicídio a cada ano, também é um problema de política externa.

O país está longe de ter uma diplomacia talhada para solucionar o problema. Os instrumentos de cooperação internacional necessários para dar batalha ainda não existem. Tampouco há tratamento sistemático das questões mais sensíveis: o que fazer quando a força policial de um país vizinho está mancomunada com o tráfico? Quanto se deve cooperar com os Estados Unidos? Como fazer para testar e, se for o caso, incorporar as melhores práticas de terceiros países?

As travas ao progresso de uma diplomacia contra o tráfico também são enormes no front doméstico. Além de ser lucrativo para os traficantes, esse tipo de crime elege vereadores, deputados estaduais, deputados federais e governadores. As forças que operam contra qualquer tipo de diplomacia inteligente nessa área são maiores.

Além disso, não existe no governo federal um paradigma capaz de obrigar policiais da Polícia Federal, procuradores do Ministério Público Federal, diplomatas do Itamaraty, arapongas da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e as várias forças de segurança a trabalharem juntos nessa área sensível. É um problema de ação coletiva urgente, mas sem solução à vista.

Com a intervenção no Rio de Janeiro, temos a deixa para iniciar a conversa. As forças de direita terão a oportunidade de explicar ao eleitorado suas ideias sobre o que seria uma diplomacia de linha-dura contra o narcotráfico.

O governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, por exemplo, acabou de declarar que a solução passa por "fechar a fronteira", tese que se ouve bastante entre gente do PSDB e do DEM. Por sua vez, as forças de esquerda dirão ao eleitorado que outro mundo é possível, apresentando alternativas. No processo, o eleitor ganhará mais discernimento. Numa democracia, não tem outro jeito.

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