Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor
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Mercado erra ao minimizar risco de contágio em ano eleitoral

Caso brasileiro tem todos os componentes para um aumento sustentado do risco político

Corretoras e fundos de investimento brasileiros correram no início desta semana para assegurar a seus clientes que o risco de contágio internacional devido à crise na Argentina é mínimo. Diferentemente de lá, o Brasil estaria preparado para resistir a choques externos.   

Tal avaliação está equivocada porque ignora a dinâmica do contágio durante ciclos eleitorais em economias emergentes. O caso brasileiro tem todos os componentes necessários para um aumento sustentado do risco político até o fim de outubro.

A lógica é a seguinte. Grandes investidores internacionais tratam o Brasil como parte de um grande bloco de economias emergentes. Quando há aumento expressivo da taxa de juros americana, queda brusca no valor de commodities ou medo generalizado de instabilidade, o comportamento é de manada. Nos próximos meses, a lira turca e o peso mexicano podem afetar o real, assim como as estripulias de Trump no Irã. 

Além disso, investidores estrangeiros reconhecem ter conhecimento limitado sobre o Brasil. Por isso, na hora de tomar decisões, observam de perto o comportamento dos investidores nacionais. Estes, por sua vez, enfrentam um ambiente político de alta incerteza. A imprevisibilidade na Faria Lima acende o alerta em Wall Street, Frankfurt e Londres.

Para lidar com o problema, os candidatos à Presidência mandam sinais ao mercado financeiro o tempo inteiro. Eles sabem que suas palavras afetam o clima econômico e, por tabela, as expectativas do eleitorado.  

Assim, a campanha de Alckmin deu largada ao processo de sinalização com Persio Arida. Bolsonaro fez o mesmo, indicando Paulo Guedes. Devido ao histórico do candidato em questões econômicas, seu desafio na sinalização é bem maior: além de claro, ele tem de ser crível. 

Ciro também começou a sinalizar, mas no sentido oposto. Sua estratégia de campanha é questionar as reformas de Temer e prometer outra saída. Em nome dele, já sinalizam Nelson Marconi e Mangabeira Unger. Diante da pergunta se Ciro seria domesticável para o mercado, a resposta deste último é certeira: “Jamais, a meu ver, será”. Marina ainda não emite sinais ao mercado, mas logo o fará. 

Ocorre que, numa eleição como a brasileira, o vaivém das alianças dura todo o período eleitoral. Mercado e eleitorado não têm convicção plena de que os candidatos conseguirão impor suas preferências às coalizões em disputa até a formação do ministério, uma vez encerrada a contagem das urnas. 

Na prática, essas características de nosso sistema criam oportunidades numerosas para dinâmicas de contágio que nenhuma autoridade nacional consegue controlar. 

É melhor rejeitar as avaliações complacentes de quem vive de vender estabilidade.

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