Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Matias Spektor
Descrição de chapéu Eleições 2018

Plataforma diplomática de Alckmin promete, mas ele entrega?

Proposta envolve dobrar o espaço do comércio exterior na composição do PIB

A campanha de Geraldo Alckmin produziu a mais ambiciosa plataforma de política externa deste ciclo eleitoral. 

A proposta envolve dobrar o espaço do comércio exterior na composição do PIB (Produto Interno Bruto). A medida é revolucionária, pois seria a adrenalina necessária para reverter a trajetória da produtividade brasileira, que hoje condena a sociedade ao atraso. 

Nas contas do Banco Mundial, daria para tirar uns 6 milhões de cidadãos da pobreza.  

Acontece que uma reviravolta dessa natureza golpearia aqueles grupos de interesse que vivem das rendas fáceis do protecionismo. Ou seja, o governo teria de ir para a guerra. 

Não surpreende que o sonho tenha durado pouco. A tinta mal havia secado no papel da campanha quando a candidata a vice na chapa do tucano explicou à GloboNews que não haverá abertura radical coisa alguma. 

Diante das câmeras, Ana Amélia expôs com orgulho seu compromisso com a proteção seletiva que é marca registrada de nosso modelo econômico. É compreensível, portanto, o avanço de Bolsonaro, munido pelas ideias de Paulo Guedes, e de João Amoêdo pelo campo liberal, que de outra forma escolheria Alckmin para presidente. 

A plataforma ainda promete levar o Brasil à OCDE e redobrar a aposta em compliance diante de normas globais de corrupção e transparência. O que isso significa na prática a plataforma não diz. 

Por fim, a campanha promete ativismo diplomático no combate ao tráfico de drogas e de armas. Mas como?

É aqui onde o eleitor fica mais perplexo. Em entrevista ao Jornal Nacional, Alckmin negou reiteradamente que lideranças encarceradas do PCC exerçam autoridade fora dos presídios. Vá lá, todo candidato fala algumas inverdades. Mas neste quesito o problema é grave porque o eleitor precisa saber o que o ex-governador acha de fato sobre o tema. 

Quando a mensagem sobre segurança não parece crível, esse eleitor migra para Bolsonaro. 

Alckmin sabe que o crime transnacional representa nossa maior ameaça externa. Também sabe que o PCC goza de presença física na Bolívia e no Paraguai, além de uma rede articulada no restante da América do Sul, na África e na Europa. 

O que não está claro é se ele entende que isso é produto da recente hierarquização do crime no Brasil e que esse processo, por sua vez, resulta da ordem paralela no sistema prisional. 

Campanha eleitoral é impostura, dizia Paulo Francis. Os candidatos prometem coisas que nenhuma pessoa informada leva a sério.

Alckmin acaba de apresentar aos eleitores uma plataforma externa nominalmente arrojada. Seu desafio, agora, é sinalizar direito que seu compromisso com essa agenda não é papo barato para se eleger.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.