Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor

Bolsonaro prepara alinhamento a Trump

Política externa do país pode ter guinada mais significativa dos últimos 20 anos

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL) - Pedro Ladeira/Folhapress

Jair Bolsonaro prometeu seguir a Casa Branca de Donald Trump a reboque em temas de política internacional.

Se conseguir fazê-lo, será a guinada de política externa mais significativa dos últimos 20 anos.

Esse capítulo começará a ser escrito na semana que vem, quando Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) desembarca em Washington para uma agenda que pode incluir encontros com o vice-presidente, Mike Pence, e com o secretário de Estado, Mike Pompeo.

O Brasil tentou alinhamento a Washington em cinco ocasiões. As duas primeiras tiveram êxito retumbante e deixaram legados positivos de longo prazo. As três seguintes foram fiascos.
Vale a pena lembrar.

1) Em 1889, a turma que derrubou o Império buscou o governo americano para dar um cavalo de pau na diplomacia de Dom Pedro 2º, pondo monarquistas na defensiva e selando o apoio da nova elite republicana. Com ajuda de Washington, o novo regime garantiu as fronteiras sem ter de ir à guerra por elas e se defendeu da Argentina sem ter de gastar as burras com rearmamento naval. Operando o alinhamento com grande destreza em público e nos bastidores, o barão do Rio Branco elevou a prática ao status de doutrina.

2) Em 1941, Getúlio Vargas negociou seu alinhamento junto a Franklin D. Roosevelt. Ele abandonou a Alemanha nazista e trocou a base aérea de Natal pelos recursos necessários para comprar a adesão dos militares e industrialistas dos quais sua permanência no governo dependia. O país saiu da guerra do lado dos vencedores. 

3) Em 1961, João Goulart buscou em John F. Kennedy o apoio necessário para fazer frente à tigrada que não queria vê-lo empossado como presidente. Apesar de desconfiar do colega, Kennedy investiu na relação. Frustrou-se rapidamente e o esquema desandou, levando a Casa Branca a desestabilizar o governo Jango até derrubá-lo.

4) Em 1964, o marechal Castello Branco montou um plano de aproximação a Washington em troca de apoio ao regime. Tropeçou na turma que não queria nada disso no Conselho de Segurança Nacional e na caserna. Em menos de dois anos, a relação entre os governos azedou.

5) Em 1989, Fernando Collor de Mello ensaiou um alinhamento. Dando-se conta do alto custo político embutido nessa empreitada, o próprio presidente a abandonou.

Quem estuda os casos em detalhe aprende uma lição. 

O alinhamento só funciona quando a Casa Branca enxerga utilidade geopolítica no governo brasileiro. E quando esse é capaz de usar a relação com os americanos para alimentar as forças políticas que o sustentam.

Dessa equação dependerão Bolsonaro e Trump.

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