É jornalista, repórter e crítico e autor de 'Adeus, Controle Remoto'.
Escreve aos domingos.
A batalha pelo espectador
Em meio à festiva exibição da final do "BBB16", e pouco antes do anúncio da campeã, na última terça-feira (5), o apresentador Pedro Bial simulou naturalidade ao dar a notícia mais importante: "A quem interessar, as inscrições para o 'BBB17' estarão abertas no dia 10 de maio".
Muitas vezes dado como esgotado, o reality show da Globo deu sinais, novamente, de que ainda tem um belo futuro pela frente. Belo para a emissora, claro. E não apenas porque a audiência cresceu em relação às edições de 2015 e 14.
O "Big Brother" pertence a uma das categorias de entretenimento mais valorizadas hoje na televisão aberta –a dos programas ao vivo. É um tipo de atração que obriga o espectador a acompanhá-la no horário determinado pelo canal.
Como uma partida de futebol, que não tem a menor graça de assistir depois que você já sabe o resultado, um episódio do "BBB" só faz sentido ser visto na hora em que vai ao ar. Quem vai querer assistir ao programa depois que já soube o nome do eliminado da semana ou o do vencedor da prova do dia? Quase ninguém.
Diferentemente de outros tipos de conteúdo, como séries e mesmo novelas, que podem ser vistos gravados, os programas ao vivo, com algum tipo de disputa ou competição, criam um laço entre o espectador e a grade horária da emissora.
Isso é reconfortante especialmente para os anunciantes. O "ao vivo" diminui as chances de o público escapar das inserções publicitárias.
Diante da fuga de público para a TV paga, Netflix e outros conteúdos que podem ser consumidos do jeito e na hora em que você quiser, as atrações que envolvem interação, votação e disputa têm se mostrado um ativo de grande valor para emissoras fundadas no modelo de programação linear.
Não espanta que a Globo esteja exibindo quatro concursos musicais diferentes por ano. Duas semanas depois de encerrar o "The Voice Kids", estreia hoje a terceira temporada do "Superstar".
Mais para frente vai apresentar a quinta versão do "The Voice". E ainda deve exibir a segunda temporada de "Iluminados", dentro do "Domingão do Faustão".
Não pense que a emissora está preocupada em revelar talentos musicais. O histórico mostra que estes programas muito raramente atingiram o nobre objetivo a que se propõem.
Cada um com as suas características, estes concursos interessam à Globo porque prometem, essencialmente, a mesma coisa –o poder do espectador definir os vencedores por meio do voto. Ou seja, para participar é preciso acompanhar em tempo real.
É justo reconhecer que a versão infantil do "The Voice" foi um achado. Muito mais que os talentos musicais, o programa agradou –e emocionou– pelos aspectos afetivos. Crianças sendo crianças, e não imitando adultos, provocaram gargalhadas e lágrimas.
O horário (domingo, na hora do almoço) e um time de jurados (Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e Victor & Leo) sem afetação ajudaram também.
Meio por acaso, a Globo redescobriu o que é um genuíno "programa para a família". Em tempos complicados como os atuais, não é pouca coisa.
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