Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Mauricio Stycer

Instagram não salva novela

Globo ancora trama juvenil na popularidade de atrizes nas redes sociais

A relação dos dez brasileiros com mais seguidores no Instagram, no início de junho de 2018, registrava quatro jogadores de futebol (Neymar, Ronaldinho Gaúcho, Marcelo e Daniel Alves), duas cantoras (Anitta e Ivete Sangalo), um youtuber (Whindersson Nunes) e três atrizes (Bruna Marquezine, Marina Ruy Barbosa e Tatá Werneck).

Bruna (28,3 milhões de seguidores), Marina (25 milhões) e Tatá (22,2 milhões) também aparecem juntas em outra lista —a do elenco de "Deus Salve o Rei". As três são as protagonistas da novela das 19h da Globo, lançada em janeiro deste ano.

 

Tudo indica que uma coisa tenha relação com a outra. A popularidade do trio nas redes sociais foi vendida como uma espécie de garantia para o enorme investimento feito nesta novela.

Ficção ambientada na Idade Média, "Deus Salve o Rei" reuniu a maior equipe de efeitos visuais já montada nos estúdios da emissora. Cenas de florestas, montanhas e castelos foram captadas na Espanha, Escócia e Islândia.

Ainda que os números de audiência não sejam ruins, "Deus Salve o Rei" está chegando à reta final caracterizada como um fracasso. Em dois momentos, a direção da emissora exigiu mudanças na trama.

A partir de certo ponto, um autor experiente foi colocado como interventor, com poder para reescrever e mudar o texto original. Em consequência, vários personagens morreram num surto de peste e outros tantos surgiram de uma hora para a outra.

Com um pé mal ancorado na comédia e outro no drama, ambos com histórias sem força, "Deus Salve o Rei" demorou a encontrar o rumo; a rigor, segue perdida.

No papel da malvada princesa Catarina, Bruna Marquezine começou a novela apostando num tipo robótico, que provocava risos involuntários. A caricatura foi atenuada com o tempo, mas a atriz jamais achou o tom da personagem. Ainda é motivo de riso ver Catarina tentando ser má.

Sua antagonista, lógico, é a personagem de Marina Ruy Barbosa, a feirante Amália, que se apaixona pelo príncipe Afonso (Rômulo Estrela), um tipo tão idealista quanto sua musa. Sem maior objetivo, afora amar o príncipe, a plebeia se tornou uma chata de galocha. E a atriz, mal orientada, agrava o incômodo, declamando com solenidade as falas mais banais.

Já Tatá Werneck lidera o núcleo cômico da trama. Ela é Lucrécia, uma princesa desajeitada, que se casa com Rodolfo (Johnny Massaro), o irmão atrapalhado de Afonso.

O texto da dupla é o melhor da novela, repleto de alusões a temas contemporâneos, mas suas cenas parecem esquetes soltos, sem qualquer relação com a trama; poderiam estar num programa de humor.

Lucrécia odeia Catarina desde que a vilã roubou o seu marido na primeira parte da novela. Já Catarina tem inveja de Amália, porque gostaria de se casar com Afonso para ser rainha. Amália, por sua vez, não quer mal a ninguém porque é a mocinha da história.

Nenhuma das três, na minha opinião, tem culpa maior pela novela decepcionante. Não mais, pelo menos, do que o autor e o diretor.

Bruna e Marina, em especial, foram as que mais sofreram em meio às idas e vindas de "Deus Salve o Rei". Ambas têm apenas 22 anos, são lindas e vivem hiperexpostas. Naturalmente, acabaram se tornando alvo de uma pressão maior.

Ao avaliar esses problemas, a Globo deveria pensar se faz sentido escalar uma novela pensando na popularidade de seu elenco nas redes sociais. Deus pode até salvar o rei, mas o Instagram não vai salvar a novela.

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