Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Bial acerta ao apostar no jornalismo e deixar o humor de lado

Denúncias contra João de Deus consagram a visão de que formatos não devem ser engessados

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No concorrido mercado de talk shows de fim de noite, Conversa com Bial se destacou desde a estreia, em maio de 2017, por deixar o humor em segundo plano e apostar em entrevistas sérias e, às vezes, densas.

Mesmo mantendo duas características obrigatórias do formato —plateia e banda musical—, essa opção foi vista como muito arriscada, especialmente por causa do horário em que é exibido o programa. Uma lei não escrita diz que o espectador espera por assuntos leves e engraçados no início da madrugada.

Além do perfil dos entrevistados contrastar com o de seus concorrentes, com frequência o talk show da Globo gira em torno não de um convidado, mas de temas, para os quais são chamadas pessoas com diferentes visões. São momentos em que a conversa vira um debate com Bial.

Se SBT, com Danilo Gentili, e Record, com Fábio Porchat, se inspiraram no modelo consagrado no Brasil por Jô Soares, a Globo optou por um outro caminho ao escolher Bial como substituto do Gordo.

A aposta em mais "talk" e menos "show" não teve efeitos negativos na audiência —Bial mantém médias semelhantes às de Jô em seus últimos anos.

A crítica de que o talk show da Globo tem cara de programa da TV por assinatura não deixa de ser preconceituosa ao sugerir que a TV aberta não pode acolher um programa de entrevistas que ambiciona ser relevante.

Ao final de sua segunda temporada, Conversa com Bial subverteu o gênero para tornar explícita esta sua aposta. Em uma noite sem banda nem plateia, excepcionalmente, o programa se converteu num jornalístico estrito senso, puro, para dar, em primeira mão, as denúncias de abuso sexual contra o médium João de Deus.

Foi um golaço, que consagra a visão de que formatos não devem ser engessados. Vale arriscar. Uma lição, aliás, que a própria Globo deveria estender para outras áreas da sua programação.

Impasse nas novelas

A área de teledramaturgia da emissora sofre no momento com uma indefinição dramática sobre os seus rumos. A recém-lançada "O Sétimo Guardião" é exemplar desta situação.

Ocupando o principal horário, das 21h, a novela de Aguinaldo Silva busca oferecer um contraponto ao realismo que predominou nas últimas décadas. A trama, ambientada na fictícia Serro Azul, gira em torno de um gato, Leon, que mais para frente vai ganhar feições humanas e ser interpretado por Eduardo Moscovis.

Além do "realismo mágico", a novela busca inspiração no passado, em especial em outras tramas do mesmo autor. O delegado, machão, gosta de usar lingerie. Uma fonte de água natural tem o poder rejuvenescedor. Uma beata representa a hipocrisia entre o que propaga e o que faz. Há um mendigo sabe-tudo, um padre ciclista e um bordel.

A opção por uma história tão passadista parece clara. Diante do suposto cansaço do público com novelas que tratam da realidade, o raciocínio parece ter sido o de buscar num modelo bem-sucedido dos anos 1980 e 1990 a chave mágica do sucesso. E entregar esta tarefa a um dos magos neste ramo.

Até o momento, porém, esta aposta no escapismo não está trazendo os índices de audiência desejados. Talvez seja um sinal, mais um, de que o problema não está na trama, em si, mas no gênero. Será que o brasileiro está cansado das novelas?

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