Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mauricio Stycer

A revolução feminina

Livro mostra como mudou a representação feminina em séries de TV nos EUA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A chamada era de ouro da televisão americana foi celebrada em dois livros muito populares, "The Revolution Was Televised", de Alan Sepinwall, publicado em novembro de 2012, e "Homens Difíceis", de Brett Martin, lançado em julho de 2013.

Ambos enfatizaram o papel dos grandes showrunners, de David Chase ("Sopranos") a Matthew Weiner ("Mad Men"), passando por David Simon ("The Wire") e Vince Gilligan ("Breaking Bad"), na consolidação de uma nova maneira de realizar séries.

Com controle criativo total sobre todas as etapas da produção, estes "homens difíceis", assim como os seus personagens, elevaram o nível de qualidade e imprimiram um caráter autoral a um processo altamente industrial.

Em "Stealing the Show" (Atria Books, 312 págs. US$ 15,85 na Amazon), a jornalista Joy Press analisa esse processo sob a perspectiva feminina. O subtítulo do livro, lançado em 2018, vai direto ao ponto: "como as mulheres estão revolucionando a televisão".

O livro apresenta os perfis de 12 criadoras de séries que, de alguma maneira, avançaram na representação da mulher na televisão, colocando-as em papéis centrais. Muitas das suas personagens são anti-heroínas, algumas sem glamour algum, com qualidades e defeitos. Falam de temas e citam termos por muito tempo proibidos, como aborto, menstruação e vagina.

Passam pelo crivo de Joy Press, entre outras, as showrunners Diane English ("Murphy Brown"), Roseanne Barr ("Roseanne"), Amy Sherman-Palladino ("Gilmore Girls"), Shonda Rhimes ("Grey's Anatomy"), Tina Fey ("30 Rock"), Lena Dunham ("Girls"), Amy Schumer ("Inside Amy Schumer"), Jenji Kohan ("Orange Is the New Black") e Jill Soloway ("Transparent").

Em tom otimista, a autora procura "celebrar a era moderna da televisão dirigida por mulheres e focada em mulheres", sem perder de vista as limitações de gênero específicas da indústria.

Diferentes pesquisas mostram que as mulheres, nos Estados Unidos, ocupam entre 20% e 25% dos cargos nos bastidores das produções de TV. Segundo um estudo da Variety referente à temporada 2017-2018, entre as séries exibidas pelas grandes redes, 29% tinham mulheres como showrunners e 35% dos papéis principais eram de mulheres. "A TV permanece como indústria dominada por homens", escreve ela.

"A história das mulheres na televisão é: se a mulher é 'difícil', ela não trabalha de novo", diz Norma Safford Vela, que escreveu roteiros de "Roseanne" e outras séries. Jill Soloway, criadora de "Transparent", perdeu trabalhos após ser rotulada como "difícil". "A assertividade feminina é, erradamente, vista como agressão ou sacanagem", escreve Joy Press.

Apesar das dificuldades, é fato que houve uma "ascensão da televisão centrada na mulher no século 21", como escreve a autora, e esse processo "coincidiu com uma ressurreição inesperada do feminismo".

Os perfis de Soloway, Lena Dunham e Amy Schumer são especialmente tocantes. As três levaram para as séries que as consagraram muito de suas experiências pessoais, incluindo questionamentos sobre o próprio gênero e sobre padrões de beleza e intimidades sexuais, expondo-as à ira de militantes de extrema direita.

A empolgação da autora ao longo do livro perde fôlego ao concluir o texto, em meados de 2017, em pleno governo Trump. "A televisão estava transmitindo a visão de uma América racialmente vibrante e sexualmente progressiva, uma visão que se mostrou muito à frente da realidade da maior parte do país, que ainda está ligada a valores tradicionais", constata ela.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.