Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Numa mesma semana, Trump e Bolsonaro veem a TV como inimiga

Presidente americano eleva o tom contra a NBC, e brasileiro se manifesta sobre a Globo

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Muito do sucesso que Alec Baldwin alcançou imitando Donald Trump deve-se à irritação que o presidente manifesta cada vez que o ator aparece na tela do "Saturday Night Live", na rede de TV americana NBC.

A paródia começou em 2016, ainda durante a campanha eleitoral, e segue até hoje. Em 2017, Baldwin faturou um Emmy na categoria de melhor ator coadjuvante em comédia e agradeceu: "Suponho que devo dizer: finalmente, senhor presidente, aqui está seu Emmy".

Na mais recente aparição de Baldwin, há oito dias, ele tripudiou do fato de Trump ter declarado emergência nacional para construir um muro na fronteira dos EUA com o México.

"Precisamos de muros porque os muros funcionam. O muro é seguro. Você não precisa ser inteligente para entender isso. Na verdade, é ainda mais fácil se você não for", disse o ator imitando o presidente.

 
O ator Alec Baldwin, conhecido por sua imitação do presidente Donald Trump no 'Saturday Night Live' - Will Heath/Divulgação/NBC

Os protestos e reclamações de Trump no Twitter ganharam um novo tom depois dessa paródia. Além das críticas de sempre ao SNL ("sem graça e injusto") e à NBC ("fake news"), o presidente sugeriu que houvesse "desforra" a canais de TV e programas que fazem críticas como esta.

"Nenhum outro presidente em décadas ameaçou publicamente de 'desforra' uma rede de televisão que o satirizou", logo observou Peter Barker, um experiente jornalista do New York Times que cobre a Casa Branca.

Alec Baldwin foi além. "Eu me pergunto: se um presidente em exercício convencer seus seguidores de que meu papel numa comédia de TV me qualifica como um inimigo do povo, isso constitui uma ameaça à minha segurança e à da minha família?"

O tom de Trump contra a NBC evidentemente lembra a manifestação de Jair Bolsonaro sobre a Globo, no áudio vazado na última semana de uma mensagem que enviou ao então ministro Gustavo Bebianno, qualificando a emissora como "inimiga".

A preferência do presidente por outras emissoras, em especial a Record, já era patente desde a campanha eleitoral, mas o áudio deu a entender mais que isso. Sugeriu que há algum compromisso envolvido.

Ao reclamar de uma reunião que Bebianno havia agendado com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo, Bolsonaro diz: "Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo".

O ressentimento com a emissora carioca é explicitado em outro trecho do áudio: "Inimigo passivo, sim. Mas trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou —antes, durante, agora e após a campanha— para dentro de casa", diz.

Mudando de assunto, mas não muito, na quinta-feira (28) estreia nos cinemas o documentário "Tá Rindo de Quê? - Humor e Ditadura", de Claudio Manoel, Álvaro Campos e Alê Braga. O filme faz um bom retrato da produção de humor no período de 1964 a 1985, falando do Pasquim, de algumas experiências em teatro e, em especial, da televisão.

"Tá Rindo de Quê?" abre com uma epígrafe de Millôr Fernandes (1923-2012): "Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos". Boni lembra que, limitada pela censura, a Globo deixou a política de lado nos seus programas de humor e investiu na crítica aos costumes. "É rindo que a gente castiga a moral", diz.

E o filme resgata uma observação de Henfil (1944-1988), ao ser questionado por Marília Gabriela sobre como gostaria de ser chamado: "Humorista é bom. Já te dá uma certa imunidade para fazer aquilo que é o principal do humor, que é dar um cacete nas pessoas".

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