Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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'Veep' é um consolo para quem está desesperado com a situação política

Maior força da série protagonizada por Julia Louis-Dreyfus é a capacidade de rir do seu tempo

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Para quem anda desesperado com a situação política do país (de qualquer país), não há consolo melhor hoje na TV do que "Veep". A série protagonizada por Julia Louis-Dreyfus na HBO acaba de dar início à sétima temporada.

Decidida a voltar a ser presidente dos Estados Unidos, Selina Meyer reúne os seus antigos colaboradores e parte para Iowa, onde pretende fazer o anúncio oficial da candidatura. No jatinho, revendo o discurso que deve fazer, ela embatuca numa frase:

"Estou em dúvida nesta parte que eu digo que quero ser presidente de todos os americanos. É isso que eu quero? De todos?" Um assessor sugere corrigir: "Que tal os americanos de verdade?" Selina aprova: "Boa! Depois a gente vê o que eu quero dizer com isso".

 

Exibida desde 2012, "Veep" já mostrou Selina como vice-presidente dos EUA, depois presidente e, enfim, ex-presidente. Sem especificar a filiação partidária da protagonista, a série faz rir explorando a sua incontrolável sinceridade e a incompetência atávica do seu estafe.

"Veep" não foi ao ar no ano passado, período em que Julia Louis-Dreyfus enfrentou, e superou, um sério problema de saúde. Esta sétima temporada é a última e, a julgar pelo episódio de estreia, esse descanso forçado de um ano fez bem ao programa.

Um dos opositores de Selina na corrida presidencial que está se iniciando é um antigo aliado, Jonah Ryan (Timothy Simons). Ele é apresentado como um imbecil completo, e quanto mais a mídia expõe a sua estupidez e grosseria, mais ele cresce nas pesquisas.

Uma das qualidades de "Veep", criada por Armando Iannucci e tocada desde a quinta temporada por David Mandel, é que sempre privilegiou a sátira ao ambiente político e não a um ou outro indivíduo. Há, claro, alusões e menções a figuras reais, mas a força maior vem da sua capacidade de rir do seu tempo.

Funeral do 'Tá no Ar'

Essa é, também, uma das maiores qualidades do "Tá no Ar", humorístico da Globo que se despede do público nesta terça (9) encenando, segundo já divulgado, um alegre funeral.

Criado por Marcius Melhem, Marcelo Adnet e Mauricio Farias, em 2014, o programa nasceu com o propósito de rir da televisão, uma tarefa aparentemente fácil, mas com muitas possibilidades e conexões.

Em seis temporadas, "Tá no Ar" foi muito feliz ao apontar o dedo para diferentes tipos de excessos e abusos, dos programas religiosos aos policiais, passando pelos jornalísticos e pela publicidade. Ao rir do conservadorismo, não fez nada além de mostrar o impacto que essa onda que tomou o país está tendo sobre a televisão.

Programa relativamente caro, com audiência mediana, foi um investimento importante e está saindo do ar por decisão de seus criadores, não da emissora.

Nascido de uma costela do "Tá no Ar", o quadro "Isso a Globo Não Mostra", exibido pelo "Fantástico", aos domingos, sinaliza que a aposta nesse humor que abraça a própria mídia segue em pauta.

Em janeiro, perguntei a Melhem como ele respondia à crítica de que "Tá no Ar" representou um tipo de humor mais elitista, menos popular do que seria desejável para a TV aberta.

Reproduzo a resposta: "Parte desta crítica embute um preconceito com nosso povo, de que tudo que é inteligente, ou supostamente inteligente, não é popular, compreensível pela população", disse.

E completou: "Além de equivocada, é uma premissa que ignora a própria missão da televisão, que é de puxar a corda disso, de provocar o público, de fazê-lo pensar. A premissa de que o público não deve pensar muito diante da televisão é errada, equivocada, preconceituosa com o público".

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