Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Expectativa e realidade

Nos 50 anos da TV Cultura, o seu financiamento aparece como tema principal

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A TV Cultura comemora 50 anos no próximo dia 15, embora tenha sido inaugurada em 20 de setembro de 1960 (há quase 59 anos) e pertencido aos Diários Associados. Para a cronologia oficial, este primeiro período é considerado a “pré-história” do canal.

Como quase tudo que diz respeito à televisão no Brasil, a expectativa e a realidade jamais se encontraram no canal de Assis Chateaubriand (1892-1968). Como já tinha a Tupi, o empresário planejou que a sua segunda emissora em São Paulo apostasse em conteúdo educativo, mas acabou fazendo sucesso com um programa de Jacinto Figueira Jr. (1927-2005), o Homem do Sapato Branco.

No livro “Uma História da TV Cultura”, Jorge da Cunha Lima realça o papel do governador Abreu Sodré (1917-1999), que apostou, em plena ditadura, na ideia de uma TV pública, gerida por uma entidade de direito privado.

Sodré comprou a Cultura dos Associados num momento em que o grupo já enfrentava uma crise financeira. E criou a Fundação Padre Anchieta, vacinando o canal, como escreve Cunha Lima, “contra qualquer intervenção por parte do governo”.

Fernando Morais, em “Chatô, o Rei do Brasil”, afirma que a proibição de exibir anúncios comerciais foi uma “cláusula marota” exigida pelos vendedores “para evitar que um novo concorrente viesse a disputar o minguado mercado publicitário”.

O financiamento das atividades da TV Cultura é um tema fundamental ao longo de toda a sua história. Custeado pelo governo estadual, com base em um compromisso legal, o canal frequentemente enfrentou dificuldades para tocar os seus projetos e manter a sua autonomia.

O assunto segue urgente hoje. Ao apresentar o novo presidente da Fundação Padre Anchieta, o novo governador do estado, João Doria, não falou em privatização, como muitos temem, mas disse: “Nossa 
intenção é ampliar a participação do setor privado no apoio à programação tanto da TV como da rádio Cultura”.

Fato pouco comum nestes 50 anos, em que predominaram dirigentes com trânsito político, o eleito para o cargo é um executivo com larga experiência no mercado de TV comercial. José Roberto Maluf trabalhou por muitos anos no SBT e na Band em cargos de comando e foi vice-presidente, no início dos anos 2000, de uma empresa do hoje governador.

Diante dos jornalistas, Maluf disse o que Doria esperava ouvir: “A manutenção [da Cultura] tem sido dois terços do poder público e um terço com recursos próprios. Vamos tentar melhorar isso. Aumentar a receita própria para tentar diminuir o investimento do Estado”.

Disse ainda: “Vou buscar, se possível, mais audiência e receita, não necessariamente faturamento publicitário apenas, mas licenciamento, venda de programas, no Brasil e no exterior, movimentação imobiliária”.

Apenas de passagem, sem se alongar, Maluf prometeu “plataformas digitais”. A Cultura consegue estar mais atrasada até que o SBT nesta matéria essencial.

Além do novo presidente do conselho curador, Antônio Prado Jr., Doria anunciou também a criação de um “conselho de gestão”, a ser comandado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o experiente executivo da Globo por mais de 30 anos e, desde 2003, dono da TV Vanguarda, no Vale do Paraíba.

Foi ele quem mais falou no evento. “Estamos num momento de renascimento. A TV Cultura fez o melhor que podia ter feito cumprindo seu papel de suprir aquilo que a TV comercial não fornece”, disse. “Agora a história é outra. Novas plataformas, a necessidade de trabalhar não apenas redes sociais, mas streaming de vídeo.” 

“O projeto que se tem em mente é o de uma nova TV Cultura. Ela tem que fazer uma coisa nova, no campo da informação, do serviço e da utilidade pública”, afirmou.

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