Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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O lado obscuro da força

Não há mocinhos em 'Billions', luta entre um gestor de fundos e um procurador

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De "Wall Street" (1987) a "A Grande Aposta" (2015), os filmes sobre o mercado financeiro enchem uma prateleira. A abordagem pode variar, do drama besta à farsa, do fascínio à repulsa, mas algo os une: raramente o espectador entende os meandros dos negócios e trapaças abordados.

"Billions" não foge aos clichês nem à dificuldade em traduzir para o leigo o significado dos jargões e das jogadas, mas a série do Showtime vai um pouco além ao não centrar toda a ação nos gênios de Wall Street.

São três os personagens principais. Robert Axelrod (Damian Lewis, de "Homeland") é o bilionário gestor de um "hedge fund" chamado Axe Capital. Suas manobras no mercado são objeto permanente do escrutínio do procurador Charles Rhoades (Paul Giamatti). E entre eles há a terapeuta Wendy Rhoades (Maggie Siff), que é mulher do procurador e trabalha na corretora como "coach" dos funcionários de Axelrod.

A psicóloga Wendy Rhoades (Maggie Siff), personagem da série Billions
A psicóloga Wendy Rhoades (Maggie Siff), personagem da série "Billions" - Reprodução

O triângulo é algo exótico, especialmente diante da ambição que Rhoades alimenta, de chegar a governador de Nova York. Mas somos convencidos a aceitar a situação pelo intrincado roteiro de Brian Koppelman, David Levien e Andrew Ross Sorkin (este último, jornalista especializado no mercado financeiro).

Ao longo de quatro temporadas de 12 episódios (todos disponíveis na Netflix), "Billions" tenta fisgar o espectador pintando um retrato nada edificante do impiedoso operador do mercado financeiro. Mas é ao se arriscar pelo perfil do igualmente implacável procurador que a série cresce. 

Rhoades comanda uma espécie de força-tarefa na promotoria sul de Nova York. Ele só mergulha em ações criminais nas quais acredita ter 100% de chances de vencer --e assim constrói a sua fama. É de família rica, estudou nas melhores escolas e conhece todo mundo que interessa no mundo empresarial e político.

Não vou dar maiores spoilers, mas o procurador recorrerá a truques e artifícios ilegais, incluindo pressão sobre juízes com fragilidades morais, para alcançar os seus objetivos. E, claro, terá altos e baixos ao longo da série. Num dos seus momentos ruins, afastado do cargo público, Rhoades se vê diante da necessidade de agradar a um poderoso, que quer um porte de armas, algo praticamente impossível de obter pela legislação de Nova York.

Com humor, "Billions" vai mostrar o protagonista numa ciranda de pedidos de favor para conseguir o tal porte de arma. A principal moeda de troca que possui é um passe "VIP", expedido pelo prefeito, que garante estacionamento em qualquer lugar da cidade. A graça vem do fato de que a maioria dos poderosos a quem recorre já possui este mesmo passe, o que o obriga a atender a outros favores, ainda mais bizarros. 

Cruel com o protagonista e com a elite nova-iorquina, esse alívio cômico não é o único na série. Inspirada vagamente em diferentes fatos reais, "Billions" tem a qualidade de ser bem pouco reverente com todos os personagens, tanto os que representam o poder público quanto os do mercado financeiro. Não tem lado "certo" nesta história.

A propósito, outra série pouco complacente com o universo dos poderosos é "Succession". A primeira temporada, exibida no ano passado, está disponível para assinantes da HBO.

Centrada na história da família Roy, que controla um grande conglomerado de mídia, a série trata justamente, como diz o título, da guerra pelo controle da empresa entre o patriarca, envelhecido, e seus filhos, um mais problemático do que o outro. Muita gente enxergou traços das famílias Murdoch e Trump na série. A segunda temporada tem previsão de estreia em 11 de agosto.

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