Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Bastidores do negócio da notícia

'Succession' impressiona com o retrato de um magnata da mídia nos EUA

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Em sua segunda temporada, “Succession” tem alcançado muita repercussão e provocado inúmeros debates nos Estados Unidos com o retrato ficcional de uma família que controla um importante conglomerado de mídia no país.

Vistos como uma representação dos Murdoch, os Roy da ficção são um clã assustadoramente cômico. O patriarca Logan (Brian Cox) e seus quatro filhos, todos potenciais candidatos à sucessão no império, formam um conjunto que causa medo e pena ao mesmo tempo.

Mais do que na primeira temporada, Logan tem movimentado a trama com gestos de impacto, tanto na esfera pública quanto privada. Incorporou ao seu grupo uma empresa jornalística nascida no mundo digital, semelhante ao BuzzFeed —e a destruiu, demitindo centenas de jornalistas.

A empresa dos Roy tem negócios em vários ramos da mídia, do jornalismo popular ao noticiário 24 horas na TV. Um famoso comentarista do grupo, com posições de extrema-direita, é apelidado de Mussolini pela concorrência.

O objetivo mais recente de Logan é incorporar uma empresa de mídia rival, a fictícia Pierce, que demonstra ter mais respeito pelos valores jornalísticos tradicionais, de isenção e imparcialidade, mas enfrenta dificuldades econômicas para manter o negócio.

Os quatro filhos de Logan, cada um à sua maneira, expõem dificuldades de adequação ao mundo em que nós, os não bilionários, vivemos. O mais próximo do pai, Kendall (Jeremy Strong), tem sérios problemas com drogas. Roman (Kieran Culkin), mais jovem, age como uma criança mimada.

Siobhan, (Sarah Snook), Shiv para os íntimos, a única mulher, afeta sabedoria e transborda hipocrisia e falta de traquejo. E Connor (Alan Ruck), o mais velho, ambiciona ser presidente dos EUA.  

Alerto que este meu esforço de resumir os personagens reduz terrivelmente a arte dos roteiristas. Todos os Roy são figuras complexas e contraditórias, com muitas camadas, e o texto da série é de alto nível.

No quinto episódio, exibido no último domingo (8), os Pierce convidam os Roy para um fim de semana na casa de campo. O objetivo declarado era verificar se havia alguma afinidade entre eles, sentir se compartilhavam os mesmos valores.

Foi, possivelmente, o melhor e mais engraçado episódio até agora. Bilionários versus bilionários. Os Pierce, esnobes, tentando humilhar os Roy com a cultura acumulada gerações a fio. E os Roy, novos-ricos mais poderosos, fingindo adular os Pierce antes do golpe fatal —no valor de US$ 25 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões).  

Um problema apontado em “Succession” é levar o espectador a ter simpatia pelos protagonistas. É algo que acontece em outras boas séries também, como “Breaking Bad” ou “Sopranos”, nas quais o terrível anti-herói acaba por ser visto de forma positiva ou compreensiva. 

O risco, de fato, existe, mas é algo que pode tornar a série ainda mais interessante, na medida em que formos capazes de refletir sobre por que isso ocorre.

No Brasil, lamentavelmente, a série da HBO não tem merecido muita atenção. Talvez porque a primeira temporada, de 2018, bem menos interessante que a atual, tenha afugentado parte do público.

Também porque, creio, temos dificuldade aqui de discutir abertamente sobre a indústria de mídia. Parece que não enxergamos esse assunto como essencial.

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