Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Datena pode usar proximidade com Bolsonaro para tentar eleição

Interlocutor frequente do presidente, o apresentador volta a cogitar o cargo de prefeito de São Paulo

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Como já ocorreu em outros períodos pré-eleitorais, José Luiz Datena está alimentando suspense sobre uma possível candidatura sua em 2020. Nas duas situações anteriores em que falou abertamente sobre concorrer, desistiu antes da hora.

Em 2015, o PP (atualmente, Progressistas) anunciou o seu nome como pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, mas ele saltou do barco em janeiro de 2016. Em junho de 2018, o apresentador chegou a dizer que disputaria o Senado pelo DEM, mas desistiu semanas depois, no início de julho.

A novela recomeçou em 2019. “Muita gente tem me procurado. Não vai ser agora que eu vou decidir. E se eu decidir, dessa vez  vou ser candidato mesmo. Se eu bater o martelo, eu vou mesmo. Não recuo.”, disse o apresentador do Brasil Urgente em outubro passado.

A situação em que fez este anúncio foi espantosa. Ao vivo em seu programa na Band, Datena divulgou uma pesquisa eleitoral, encomendada por uma instituição financeira, que colocava o seu próprio nome em primeiro lugar nas intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo.

Fazendo propaganda explícita em seu benefício, Datena disse: “Me sinto realmente envaidecido”. Ao fundo, um quadro exibia os números da sondagem.

Um aspecto não levado em conta nas duas eleições anteriores, hoje aparenta ter grande peso: a proximidade de Datena com o presidente Jair Bolsonaro. Há uma relação de confiança entre os dois, visível na sucessão incomum de entrevistas exclusivas realizadas pelo apresentador com o político.

Em setembro de 2018, três semanas depois da facada que levou em Juiz de Fora, Bolsonaro recebeu Datena no hospital Albert Einstein, em São Paulo, por 45 minutos. Em novembro, o apresentador foi à casa do então presidente eleito, no Rio, para outra entrevista, que durou quase duas horas.

Datena contou, na ocasião, que o encontro ocorreu a pedido de Bolsonaro: “Eu recebi uma ligação. Estava em Santa Catarina, que eu fui descansar um pouco. Recebi uma ligação, estava meio dormindo: ‘Ô Datena, você não vem falar aqui comigo? É o Bolsonaro’. Então, não tive tempo de me preparar muito bem pra essa entrevista”.

Ao longo de 2019, Datena fez outras cinco entrevistas exclusivas com o presidente. Agora em 3 de janeiro, fez mais uma, a primeira que Bolsonaro concedeu neste ano. Foram 49 minutos de conversa ao vivo, por telefone.

Esta duração, absolutamente assombrosa na TV aberta, é um padrão nas entrevistas de Datena com Bolsonaro. Outra característica é que o apresentador, normalmente verborrágico, costuma falar pouco e raramente interrompe o presidente ou faz contrapontos a declarações contraditórias ou vagas.

Nesta última entrevista, por exemplo, Bolsonaro chegou a falar por nove minutos seguidos em resposta a uma questão sobre a intenção de disputar a reeleição em 2022. A situação lembrou mais uma “live” do presidente nas redes sociais do que uma entrevista.

Hoje com 62 anos, Datena já teve uma visão muito crítica sobre apresentadores de TV que aproveitam a fama para disputar eleições. Em 2012, falando sobre a candidatura de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo, ele disse: “Aparecer na TV, com milhões de pessoas confiando em você, te dá uma vantagem. Pode ser legal, mas não é justo”.

Em entrevista ao UOL, naquela ocasião, perguntei a Datena se apresentadores deveriam ser proibidos de disputar eleições. "Proibir, não, mas é injusto. O cara deveria se autoproibir. Não é porque o cara é bom de televisão que ele vai ser um bom prefeito. É injusto porque o cara tá confundindo popularidade com credibilidade e com capacidade”, respondeu ele. 

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