Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu Coronavírus

Três sugestões de séries para a quarentena por coronavírus

Dois bons documentários e uma minissérie baseada em fatos reais

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Você pode passar por esta vida, tranquilamente, sem conhecer a história de Joe Exotic. Não vai fazer a menor diferença, de fato. Mas uma vez que você está em quarentena e tem algum tempo sobrando, sugiro dar uma olhada na série “Tiger King: Murder, Mayhem and Madness” (algo como rei Tigre: assassinato, caos e loucura). É impossível não ser fisgado.

Cena de 'A Máfia dos Tigres' - Divulgação


Pessimamente traduzido pela Netflix no Brasil como “A Máfia dos Tigres”, este documentário em sete episódios reúne uma coleção de tipos malucos ainda maior do que a vista em “Wild Wild Country”, de 2018.

O protagonista é este Joe Exotic, dono de um zoológico particular, especializado em felinos selvagens, que também comercializa filhotes. Vaidoso, excêntrico e exibicionista, sonha com a fama a qualquer preço. É casado com dois homens. Os seus funcionários são ex-presidiários.

O diretor Eric V. Goode avança na história apresentando outros donos de zoológicos dedicados a tigres, onças, cobras e até elefantes, nos Estados Unidos. Um deles é também um guru espiritual, casado com três mulheres, outro é um ex-traficante de cocaína, condenado por crimes bárbaros.

E, por fim, há ​Carole Baskin, a antagonista de Joe Exotic, que mantém uma ONG dedicada a libertar tigres em cativeiro. Um episódio da série é dedicado ao desaparecimento misterioso, e jamais esclarecido, do segundo marido da protetora dos animais. O embate entre Joe e Carole vai resultar num crime grave. Chega a ser difícil acreditar que esta fauna humana exista mesmo.

Impressão exatamente oposta transmite “Marielle, o Documentário”. Não há dificuldade alguma em entender a importância desta história e as inúmeras implicações que ela têm na vida brasileira.

Trata-se da primeira experiência da Globoplay na produção de documentários. Dirigida por Caio Cavechini, a série busca apresentar em seis episódios um perfil multifacetado de Marielle Franco, da infância à vida política, e ao mesmo tempo mostrar a longa e confusa investigação sobre o assassinato da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro.

O formato longo autoriza o aprofundamento de temas e personagens não essenciais, o que enriquece a narrativa, mas impõe o desafio de manter o espectador conectado por um longo período. Para
fazer isso, especialmente nos dois primeiros capítulos, salta aos olhos o esforço algo exagerado de apelar para a emoção.

Mas isso não tira a força da série. Ao expor as muitas idas e vindas da investigação, as diferentes teorias sobre o crime e, em especial, a grande pergunta sem resposta —quem mandou matar Marielle?—, o documentário vai até onde é possível ir com o jornalismo.

Por fim, recomendo “Nada Ortodoxa”, uma minissérie em quatro episódios, recém-lançada pela Netflix.

Dirigida pela alemã Maria Schrader, é baseada na história de Deborah Feldman, que em 2012 publicou um livro relatando a vida em uma comunidade de judeus ortodoxos em Nova York e a sua fuga e “renascimento” em Berlim.

Falada em iídiche e inglês, a minissérie assume um caráter quase documental (e respeitoso) ao descrever a situação da protagonista Esther “Esty” Shapiro (Shira Haas) dentro do grupo religioso. É um universo em que o rabino é um líder com amplos poderes sobre a comunidade, os casamentos são arranjados, os bons homens se dedicam ao estudo (os não tão bons trabalham) e as mulheres cuidam do lar.

Ainda que sobre um universo específico, “Nada Ortodoxa” reflete sobre temas bem atuais e universais, resvalando, involuntariamente, até no combate à pandemia de coronavírus, prejudicada em ambientes onde há primazia da fé sobre a razão.

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