Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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É correto apagar episódios ou reescrever passado contra o racismo?

Há quem entenda que derrubar estátuas não é sinônimo de apagar a história, mas de reparar, com novos sentidos, será?

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Reverberou no audiovisual o barulho das estátuas derrubadas na esteira de protestos antirracismo. A primeira vítima foi “...E o Vento Levou”, que quase dançou do catálogo da HBO.

Após ficar fora do ar por alguns dias, o filme retornou com um vídeo introdutório, apresentado por uma professora de cinema, Jacqueline Stewart, que adverte se tratar de “um documento importante das práticas racistas de Hollywood do passado”.

Menos sorte tiveram quatro episódios da série “30 Rock”, que foram removidos das plataformas Amazon Prime e Hulu e não serão mais exibidos em reprises na TV americana. Os episódios contêm cenas de “blackface” (quando atores brancos pintam a cara para representar negros).

Quem pediu a remoção foi a comediante Tina Fey, criadora da série. “Entendo agora que ‘boa intenção’ não é um passe livre para as pessoas brancas usarem essas imagens. Peço desculpas pela dor que causaram.”

Não tenho, como se diz, lugar de fala para julgar as medidas.

Há quem entenda que derrubar estátuas não é sinônimo de apagar a história, mas de reparar, com novos sentidos. Será?

Mais complicado ainda é ver o passado ser reescrito —e suas mazelas atenuadas— em séries feitas nos dias de hoje.

Escrevi a respeito em maio ao falar de “Hollywood”, da Netflix. Ambientada nos anos 1940, a série de Ryan Murphy retrata um mundo em que racismo, homofobia e machismo são superados magicamente.

Na nova temporada de “Coisa Mais Linda”, da Netflix, um fenômeno semelhante ocorre. Ainda que de modo mais sutil do que na série americana, a obra brasileira, passada na virada dos anos 1950 para os 1960, apresenta uma heroína feminista, papel de Maria Casadevall.

Ao som de muita bossa nova, essa “mulher-maravilha”, como escreveu Luciana Coelho aqui na Ilustrada, derruba várias estátuas nos seis episódios desta temporada. Fantasia para quem precisa.

Triunfo da técnica

“Diário de um Confinado”, da Globoplay, está sendo apresentada como um triunfo da técnica num momento de sérias restrições por causa do coronavírus. A série cômica, com episódios de dez minutos, foi concebida pela diretora Joana Jabace e seu marido, o ator Bruno Mazzeo, e gravada quase toda dentro do apartamento do casal.

Murilo, o personagem de Mazzeo, interage remotamente com a mãe (Renata Sorrah), a terapeuta (Fernanda Torres) e um amigo (Lucio Mauro Filho) em cenas que reproduzem videoconferências que os espectadores também estão vivenciando.

Deborah Bloch, que mora no mesmo prédio do ator, também atua na série —as cenas da dupla são as únicas em que há mais de um ator no quadro.

O grande problema de “Diário de um Confinado” é a banalidade do ângulo adotado. Murilo é um sujeito de classe média, enfrentando problemas prosaicos na quarentena —como lavar louça, cozinhar e fazer faxina. Ou como lidar com uma terapeuta que é importunada pelo filho durante a sessão. Ou, ainda, com uma situação de namoro virtual.

Com bem menos recursos, Rodrigo Pitta fez uma aposta mais ousada em “Alta Sociedade Baixa”. A sua série, também realizada remotamente, com uma dezena de personagens, foi exibida no Instagram.

A história, totalmente escrachada, gira em torno de milionários de caráter duvidoso que debocham da necessidade de fazer quarentena e se reúnem numa festa. Também com episódios de dez minutos cada um, a produção oferece espaço para bons momentos de um elenco que inclui Samantha Schmutz, Tom Cavalcante, Glamour Garcia, Adriane Galisteu, Leonardo Miggiorin, Gorete Milagres, Karol Conká e Theodoro Cochrane.

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