Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu Emmy 70 anos da TV

Enquanto Emmy celebra a excelência, TV brasileira olha o umbigo

Pandemia obriga pessoas a ficarem mais tempo em casa e consumo de televisão bate recordes

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Premiações de segmentos da indústria do entretenimento são, é claro, autocelebrações. É uma forma de enfatizar e, frequentemente, exagerar a própria importância.

Neste ano, no caso do Emmy, no entanto, não foi necessário fazer qualquer esforço nesse sentido. A pandemia obrigou as pessoas a ficarem mais tempo em casa e o consumo de televisão bateu recordes em todos os lugares.

Para muita gente, o conteúdo disponível para consumo em TVs e serviços de streaming preencheu, nestes últimos meses, um tempo que ficou ocioso em consequência das limitações provocadas pela necessidade de distanciamento social.

É inegável que há muita porcaria e bobagem na programação e nos catálogos dessas empresas. Mas também há algumas pérolas, como lembrou o Emmy.

Kimmel apresentou diversas categorias do Emmy 2020 enquanto os indicados estavam em suas casas - ABC -20.09.2020

Como disse o apresentador Jimmy Kimmel, na abertura da cerimônia de entrega do prêmio, “nos bons e nos maus momentos, em todos os dias da sua vida pesada, a televisão está lá para você; o mundo pode ser terrível, mas a TV nunca foi tão boa”.

Uma reação muito comum a prêmios concedidos a filmes e programas de televisão é confrontá-los com o nosso próprio gosto. Por esse prisma, o troféu é melhor ou pior se confirma ou não a nossa própria avaliação.

Outra forma de encarar essas premiações regulares é buscar compreender de que forma o contexto pode ter influenciado os resultados. No caso do Emmy, as escolhas dos eleitores costumam sempre deixar muitas digitais. Neste ano, em particular, ao menos duas mensagens saltaram aos olhos.

O eleitor interessado em protestar contra o racismo e a violência policial contra negros encontrou em “Watchmen” a opção perfeita —uma fantasia poderosa, com muitas alusões aos dias atuais, sobre a necessidade de combater a discriminação e os delírios supremacistas.

E quem está incomodado com o poder exagerado dos conglomerados de mídia, o viés conservador dos empresários que comandam canais de notícias e a difusão de fake news no horário nobre teve o gostinho de votar em “Succession”, da HBO. A série evoca a família que comanda a Fox, nos Estados Unidos.

Os dois programas levaram os principais prêmios em suas respectivas categorias (minissérie e série dramática). E, sou obrigado a dizer, validaram a minha avaliação, publicada meses atrás aqui na Ilustrada.

Globocentrismo

Os 70 anos da inauguração da televisão no Brasil mereceram muitas lembranças nestes últimos dias. Aliás, desde as comemorações dos 50 anos, no ano 2000, não se falava tanto desta data.

Enfrentando o mais radical e disruptivo processo de transformação, a indústria do audiovisual preferiu celebrar as glórias do passado a refletir sobre o futuro. Quase todos os canais produziram especiais sobre a data, lembrando os grandes acontecimentos e personalidades que passaram pela televisão.

A Globo produziu dois episódios do Globo Repórter alusivos à data. O segundo vai ao ar nesta sexta. O primeiro girou basicamente em torno da própria Globo, irritando quem esperava mais generosidade da emissora.

O problema é que o especial da Record quase só falou da Record. E o da Band tratou principalmente da Band. Já o da TV Cultura foi mais diversificado, mas feito sob o ponto de vista de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, principal executivo da Globo por 30 anos.

Esse foco na árvore e a dificuldade de enxergar a floresta dizem muito sobre a televisão brasileira, o que é preocupante. Num momento tão desafiador quanto o atual, a falta de visão pode ser fatal.

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