Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Na era dos youtubers, todos poderão ser Silvio Santos por 15 minutos

Documentário tenta explicar o lugar dos vloggers no mercado de comunicação

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“Eu acredito que ser youtuber é ser o apresentador de televisão do futuro. Como se todos nós tivéssemos a oportunidade de ser um pouco Silvio Santos. Porque todo mundo é dono do próprio canal. Ao mesmo tempo, ser youtuber é ser influenciador”.

Quem resume a própria atividade é Spartakus Santiago, um dos quatro personagens sobre os quais se debruça, respeitosamente, o documentário “You Tubers”, de Sandra Werneck e Bebeto Abrantes.

Talvez seja apenas uma coincidência, mas o Canal Curta lança o filme nesta sexta-feira (11), exatamente uma semana antes da comemoração dos 70 anos da televisão no Brasil .

Há, de fato, uma empolgação que beira a ingenuidade na declaração de Spartakus, mas não deixa de ser curioso pensar, por outro lado, que parte considerável do seu público ignore ou já não se importe com Silvio Santos.

Spartakus tem formação como publicitário, mas atua em seu canal no You Tuber como um debatedor de questões ligadas à identidade negra e sexualidade.

Julia Tolezano, a Jout Jout, conquistou o seu público com vídeos em que denuncia o machismo, discute relacionamentos abusivos e feminismo.

Arnaldo Taveira criou um canal chamado “Igreja Evangélica Pica das Galáxias” e, vestido como o personagem apóstolo Arnaldo, critica a ganância de algumas igrejas e a mistura entre religião e política no país.

Por fim, o filme mostra o trabalho de Guilherme Terreri, que criou o canal Tempero Drag, no qual dá aulas de história, sociologia e política na pele da drag queen Rita Von Hunty.

Os quatro, como é possível imaginar, alcançam nichos específicos de audiência e, com base nos números de visualizações de seus vídeos, são remunerados pelo You Tube. É o “rolê dos algoritmos”, como diz Jout Jout.

Um dos méritos do filme é nos convencer de que eles estão mais preocupados com os temas de seus vídeos do que com o número de seguidores, likes ou visualizações. Werneck e Abrantes conseguiram passar longe do oba-oba e do deslumbramento que costumam caracterizar entrevistas com os chamados influenciadores digitais.

Ouvindo-os, faz sentido pensar que estes comunicadores estão ajudando a redefinir o panorama da comunicação no país como um ambiente muito mais polifônico e democrático. No futuro, todos poderão ser Silvio Santos por 15 minutos.

Inspirados pelo luto

A temática do luto está sempre inspirando produções audiovisuais. Vale observar como dois comediantes contemporâneos enfrentam corajosamente este assunto. Quero recomendar “After Life”, de Rick Gervais, na Netflix, e “Kidding”, com Jim Carrey, no Globoplay.

Ambas as séries tiveram suas segundas temporadas lançadas em 2020, um ano não muito apropriado para falar de luto. A de Gervais foi renovada para uma terceira temporada e a de Carrey foi cancelada.

“After Life” mostra o esforço de Tony (Gervais), um jornalista de uma cidadezinha do interior da Inglaterra, em lidar com a morte da mulher que amava. Alerto que o personagem, um misantropo, fala de suicídio em praticamente todas as cenas. Mas o texto é tão bom, inteligente e eventualmente cômico, que não derrapa em momento algum para o baixo-astral.

Já “Kidding”, uma parceria entre Carrey e o diretor francês Michel Gondry, se passa em Columbus (Ohio) e é centrado na trajetória de Jeff Pickles, um querido apresentador de programas infantis, que doa todos os seus lucros para instituições de caridade.

Após perder um dos filhos em um acidente de carro, o casamento desanda e a vida dá cambalhotas. Toda a ambientação da série é inspirada na carreira do personagem, mas a temática é adulta. Com texto afiadíssimo também, e um protagonista repleto de camadas, “Kidding” voa muito alto.

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