Há uma semana, os apresentadores do principal telejornal do SBT não leem mais a escalada, aquela sequência de chamadas com as principais notícias do dia na abertura do programa. O SBT Brasil agora começa com uma notícia importante e segue em frente com as demais informações do dia.
A escalada seria o equivalente à primeira página de um jornal ou à homepage de um site noticioso. É a apresentação do que há de mais relevante ou que merece mais destaque no dia.
Reza a lenda que a ordem para excluir a escalada do telejornal foi de Silvio Santos. Confinado em casa desde março, o dono da emissora não teria gostado de algo que viu, pegou o telefone e determinou a mudança.
Na mesma semana em que essa inovação tão pitoresca quanto inexplicável foi implantada, o SBT anunciou ter chegado a um acordo com a Conmebol, a Confederação Sul-Americana de Futebol,
para transmitir partidas da Taça Libertadores até 2022.
“A principal competição esportiva do continente americano agora é do SBT”, anunciou Marcelo Torres, apresentador do SBT Brasil, erguendo as duas mãos, como se estivesse comemorando um gol.
Ainda há muitas lacunas na história que leva a esse golaço do SBT, mas é fato que significou uma derrota por goleada para a Globo. A emissora carioca transmitia a competição na TV aberta desde 1993.
Neste ano difícil, entre contratos renegociados ou cancelados, a Globo propôs à Conmebol a redução do valor pago pelos atuais direitos da Libertadores. A emissora tinha um acordo até 2022 no qual se comprometia a pagar US$ 60 milhões por ano (cerca de R$ 320 milhões) pelos direitos de TV aberta e jogos da TV por assinatura.
Como a confederação se manteve inflexível, a Globo decidiu rescindir o contrato no início de agosto. O gesto de força foi mal visto e os dirigentes sul-americanos saíram em busca de um novo parceiro.
Um mistério é como chegaram ao SBT, uma emissora que até recentemente estava reclamando de perda de receita, promovia enxugamentos em várias áreas e praticamente não fazia investimentos.
Em março do ano passado, o então presidente do SBT, Guilherme Stoliar, escreveu um artigo na Folha no qual dizia: “Hoje, todas as emissoras abertas perderam 30% da receita e não conseguiram reduzir custos e despesas nessa proporção. Missão muitodifícil para qualquer um”. A situação só piorou em 2020 com a pandemia de coronavírus.
No texto, Stoliar observava que, na sua opinião, a dificuldade maior era da Globo, a quem ele chamou de “Cirque du Soleil”. E o primeiro exemplo que deu foi justamente futebol. “Como reduzir o custo dos direitos do futebol brasileiro? Missão impossível!”
Jornalistas que acompanham o negócio asseguram que a Conmebol aceitou receber do SBT menos do que pedia à Globo. O jornalista Erich Beting, do site Máquina do Esporte, afirma que a emissora de Silvio Santos ofereceu US$ 15 milhões (cerca de R$ 80 milhões), um quarto do valor do contrato que a emissora carioca tinha com a confederação.
É verdade que o acerto do SBT não inclui TV por assinatura, o que diminui um pouco o seu valor. Mas, ainda assim, a conta não fecha. A falta de transparência, infelizmente, é comum em negociações de direitos esportivos no Brasil.
Para o espectador, a novidade implica em aumento da oferta de futebol na televisão aberta, o que é ótimo.
Para a Globo, porém, trata-se de um golpe duro nos seus negócios.
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