Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Iozzi e Tas divergem sobre papel do 'CQC' na promoção de Bolsonaro

Ex-repórter lamentou seu papel nessa história, e ex-apresentador diz que programa não criou o político

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Um capítulo importante, mas incômodo, da história da televisão insiste em permanecer na pauta. Trata-se do papel que programas como "CQC", "Superpop" e "Pânico" tiveram na projeção alcançada por Jair Bolsonaro nos anos 2010.

A atriz Monica Iozzi, que atuou como repórter do "CQC" entre 2009 e 2013, é uma rara voz "de dentro" que tem ajudado a pôr o assunto em discussão. Em mais de uma ocasião, lamentou o seu papel nessa história.

Em uma recente entrevista a Pedro Bial, na Globo, ela disse: "Quem mais deu voz ao Jair Bolsonaro, que fez com que ele depois fosse convidado para outros programas, foi o 'CQC'. A gente não pode se eximir dessa culpa e, sim, eu me arrependo muito de ter falado com ele tantas vezes".

Monica Iozzi (esq.), Marcelo Tas e Dani Calabresa, como integrantes do 'CQC', em 2013 - Divulgação

A atriz disse ainda: "Ele foi muito mais inteligente do que eu. Ele sabia que podia se utilizar daquela visibilidade que o programa proporcionava para espalhar o seu discurso. E ele ainda não era um cara muito conhecido. Então, para ele, era bom: 'vou aqui divulgar as minhas ideias, a minha plataforma'". Iozzi em momento algum responsabiliza o "CQC" pela eleição de Bolsonaro.

Essa é uma acusação, como tantas outras, verbalizada sem maior embasamento nas redes sociais.

Numa entrevista ao site do El País, nesta semana, Marcelo Tas foi questionado pelo repórter Breiller Pires sobre as observações de Iozzi, mas a sua resposta foi em outra direção.

"Eu saí do 'CQC' em 2014, e o Bolsonaro foi eleito em 2018. É surreal alguém achar que nós contribuímos para o Bolsonaro ser presidente, e não os 60 milhões de brasileiros que votaram nele", disse.

"Nós recebemos processos de vários partidos, o que mostra nossa independência. O 'CQC' não criou Bolsonaro", acrescentou Marcelo Tas.

O "CQC" ganhou uma versão brasileira pelas mãos dos produtores argentinos que criaram o programa em seu país.

Entendiam muito de televisão, mas pouco sobre o Brasil.

A primeira turma de repórteres era formada por jovens comediantes e por jornalistas inexperientes.

No centro da bancada de apresentadores, Tas era o único com tarimba e conhecimento tanto de TV quanto da realidade brasileira. O sucesso do "CQC" o recolou em posição de destaque no mercado.

Uma das marcas do programa era provocar políticos com perguntas inconvenientes e os expor a situações ridículas.

Os mais sérios reclamavam. Os que não tinham nada a perder adoravam.

Em 2011, Tas apresentou Bolsonaro como "o deputado federal mais polêmico do Brasil".

Nas muitas entrevistas que deu ao programa, o político exibiu o portfólio de intolerância e grosseria que, posteriormente, durante a campanha presidencial, seria tema de repetidos questionamentos.

"A mídia é maligna ou preguiçosa. Ou as duas coisas. E, se você entender isso, você pode fazer o que quiser", ensinou Roger Stone, marquetólogo que ajudou na eleição de Donald Trump.

O "CQC" entendeu que figuras como Bolsonaro eram garantia de audiência —e tome convite para o deputado apresentar as suas ideias.

Como já escrevi, o então deputado sempre seguiu, ainda que de forma intuitiva, uma outra lição de Stone: "A atual política de desmoralização é essencial hoje para ser notado. Você tem que ser ultrajante para ser notado".

Em julho deste ano, Stone foi condenado a três anos de prisão por obstrução, ameaça a testemunhas e por mentir para o Congresso durante a investigação sobre a interferência dos russos nas eleições de 2016.

Pouco depois, foi indultado por Trump.

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