Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu Maratona series

'Sob Pressão' vale cada lágrima emocionada do espectador na pandemia

Especial da série médica da Globo faz retrato realista de desafios dos profissionais de saúde

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Num hospital de campanha no Rio, no momento mais dramático da pandemia de coronavírus, os médicos se dão conta de que não há respiradores em número suficiente para todos os pacientes. A aflição é enorme. Até que vem a notícia de que um caminhão chegou para entregar um lote com o equipamento tão necessitado.

Os próprios plantonistas correm à entrada do hospital, mas logo descobrem, ao abrirem as caixas, que são carrinhos de anestesia, e não respiradores, como havia prometido a Secretaria de Saúde. Sabendo que o preço deste outro aparelho é três vezes inferior ao que eles esperavam, um dos médicos observa: “Alguém está levando algum nesta história”.

Agoniada, desesperada mesmo, com a situação dos pacientes internados, a médica Carolina só consegue dizer duas palavras: “É Brasil!”.

Os roteiristas de “Sob Pressão” não precisaram ir muito longe para escrever essa sequência impactante do especial “Plantão Covid”, cujo primeiro episódio foi ao ar nesta terça-feira (6).

Em junho, entre os muitos escândalos que abalaram o governo do Estado do Rio de Janeiro, os jornais noticiaram que uma organização social contratada pela Secretaria de Saúde para erguer um hospital de campanha na capital havia comprado 500 carrinhos de anestesia no lugar de respiradores.

Na ficção, coube ao médico Evandro resolver o problema fazendo uma gambiarra. Ele adaptou um dos respiradores do hospital para uso de dois pacientes ao mesmo tempo.

Uma espécie de “MacGyver do SUS”, como os próprios roteiristas apelidaram o personagem, Evandro é inspirado no cirurgião torácico Marcio Maranhão, que trabalhou 15 anos em emergências de hospitais públicos e se tornou consultor da série.

Exibidas entre 2017 e 2019, as três primeiras temporadas de “Sob Pressão” constituem uma das mais significativas realizações da teledramaturgia da Globo no período. Com uma pegada ultrarrealista, salpicada com os dramas pessoais dos médicos e as histórias trágicas dos pacientes, a série encontrou um raro equilíbrio entre a militância, a favor da saúde pública, e o entretenimento.

Com a quarta temporada adiada para 2021 por causa da pandemia, surgiu a ideia deste especial, com apenas dois episódios, dedicado a falar da Covid-19 e fazer um tributo aos profissionais da área da saúde. O segundo capítulo vai ao ar na próxima terça-feira.

Julio Andrade e Marjorie Estiano, os médicos Evandro e Carolina, são atores de muitos recursos e conseguem evitar que o roteiro, sempre carregado de emoção, transborde para o melodrama. Ainda assim, é impossível não chorar neste especial de “Sob Pressão”.

“Não aguento mais”, diz o médico Charles (Pablo Sanábio) ao ver um paciente morrer no ambulatório, enquanto outros três pacientes, em seus leitos, esticam o pescoço para ver o que está acontecendo.

Na cena seguinte, ele desabafa com Evandro: “É o terceiro paciente que morre na minha mão hoje. Quando um morre, vem outro depois”. Evandro responde: “Eu escolhi estar aqui. Você escolheu estar aqui. Eles não têm escolha, eles só têm a gente”.

Mesmo sabendo que está sendo manipulado pelo roteirista Lucas Paraizo e sua equipe (Marcio Alemão, Flavio Araujo e Pedro Riguetti), o espectador chora com prazer neste episódio catártico. Chora de raiva, de tristeza e até de alegria.

Uma coprodução da Globo com a Conspiração, “Sob Pressão” é dirigido por Andrucha Waddington. Neste especial, com menos figurantes e mais limitações do que em uma situação normal, é notável o esforço da câmera e da sonoplastia em deixar o espectador ainda mais perto da ação. Vale cada lágrima derramada.

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