Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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A aventura eleitoral do Homem do Baú

Livro culpa ACM e Globo por fracasso de Silvio Santos na política

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Na política desde 1971, Marcondes Gadelha viveu o seu momento de maior protagonismo em 1989, quando ajudou a articular a campanha de Silvio Santos à Presidência da República e foi o candidato a vice na chapa do Homem do Baú.

Aposentado em 2019, o ex-deputado e ex-senador resolveu pôr no papel as lembranças sobre os tormentosos meses de outubro e novembro de 1989. Além do título dramático e da capa mal ajambrada, "Sonho Sequestrado" (ed. Matrix, 200 págs., R$ 35,70) é um pote até aqui de mágoa.

Silvio Santos faz campanha para presidente em 1989
Silvio Santos faz campanha para presidente em 1989 - Sergio Tomisaki - 6.nov.1989/ Folhapress

A tese principal de Gadelha é que a candidatura foi vítima de uma "maquinação" orquestrada por "um cacique político ardiloso, um barão da imprensa e um ministro da ditadura", a saber, Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), Roberto Marinho (1904-2003) e João Leitão de Abreu (1913-1992).

Silvio sempre se declarou apolítico, e não há muitas razões para duvidar disso, mas fez quatro tentativas, todas malsucedidas, de disputar eleições. Uma delas foi em 1989.

O início da história faz algum sentido. Diante da falta de apelo popular de Aureliano Chaves (1929-2003), o candidato do PFL à Presidência, três integrantes do partido (Gadelha, Edison Lobão e Hugo Napoleão) tiveram a ideia de convidar Silvio para assumir o lugar.

No intervalo de quatro dias, entre 19 e 22 de outubro de 1989, Aureliano concordou em abrir mão da eleição em nome de Silvio e voltou atrás. Gadelha assegura que ele sucumbiu à pressão de ACM e Marinho.

Faltando menos de um mês para a eleição, programada para 15 de novembro, os "três porquinhos", como Gadelha, Lobão e Napoleão ficaram conhecidos, partiram em busca de um outro partido para abrigar a candidatura de Silvio.

Numa eleição com 22 candidatos, não faltaram ofertas. "Em particular, pediam dinheiro —milhões de dólares— em troca da legenda", conta Gadelha. Em 30 de outubro, houve um acordo, sem envolvimento de cifras, garante o autor, com Armando Corrêa, dono do Partido Municipalista Brasileiro.

A chapa foi registrada no TSE, o Tribunal Superior Eleitoral, em 4 de novembro e impugnada, por unanimidade, no dia 9. Pesquisas divulgadas na época indicam que Silvio roubava votos de Fernando Collor, então líder nas pesquisas e candidato apoiado abertamente por Roberto Marinho desde julho daquele ano.

Como registra Mario Sergio Conti em "Notícias do Planalto", Marinho acreditou que a candidatura Silvio Santos havia sido articulada pelo então presidente José Sarney, e teria orientado Collor a atacá-lo. Gadelha compra a tese e conta que Silvio disse que era preciso "acalmar" o dono da Globo.

Gadelha registra as seguintes palavras que Silvio teria dito sobre Marinho na época: "Ele joga duro, mas é capaz de grandes gestos. Precisa apenas acreditar que eu não serei nenhum contratempo às suas organizações e que, em meu governo, ele terá o mesmo tratamento que teve ao longo do governo Sarney, ou até melhor".

Em carta enviada ao autor e reproduzida na abertura do volume, Silvio afirma não se lembrar de tudo. Repetindo uma piada sobre a sua vida sexual que teima em fazer há décadas, diz: "Como vários dos meus órgãos, incluindo o óbvio, que não está funcionando há muito tempo, minha memória também a cada dia que passa vai se apagando vagarosamente".

Ainda assim, Silvio faz um reconhecimento imodesto, com o qual Gadelha concorda: "Considero que estava qualificado para exercer a Presidência da República e tenho certeza de que a equipe que eu escolheria, no mínimo, melhoraria as condições das pessoas mais necessitadas deste país".

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