Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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'Emily em Paris' segue a fórmula TV ambiente, ignorável e interessante

Sucesso da série e de 'O Gambito da Rainha' avaliza aposta da Netflix em produções convencionais

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Na semana em que “O Gambito da Rainha” se tornou a sua série original mais vista no mundo, a Netflix também divulgou, como de hábito, o ranking dos programas mais populares por país.

No Brasil, o melodrama sobre a adolescente órfã e atormentada que se tornará uma campeã de xadrez apareceu apenas em quinto lugar no Top 10.

A lista aqui era encabeçada pela comédia romântica “A Princesa e a Plebeia - Nova Aventura”, seguida por um exemplar genuíno de cinema catástrofe, “Tempestade: Planeta em Fúria”, pela novela infantil “Chiquititas” e pela série infantil “O Chefinho - De Volta aos Negócios”.

Ante estes quatro títulos, de fato, “O Gambito da Rainha” vira uma obra-prima. O que está longe de ser. O sucesso mundial entre assinantes da Netflix apenas avaliza a aposta em produções convencionais, eventualmente muito bem realizadas, que tem orientado a política de investimento do serviço de streaming.

Cena de 'Emily em Paris', da Netflix - Carole Bethuel/Netflix

Em um texto na New Yorker sobre a série “Emily em Paris”, o jornalista Kyle Chayka cunhou a expressão “TV ambiente” para definir este tipo de produção “tão ignorável quanto interessante”.

O jornalista se apropriou da frase dita originalmente pelo músico Brian Eno, ao citar o termo “música ambiente” no encarte do disco “Ambient 1: Music for Airports”, de 1978: “A música ambiente deve ser capaz de fornecer muitos níveis de escuta sem impor um em particular, deve ser tão ignorável quanto interessante”.

Escreve Chayka: “Ambiente denota algo que você não precisa prestar atenção para desfrutar, mas que ainda é sedutor o suficiente para ser atraente se você decidir fazê-lo momentaneamente”.

Como uma música new age, escreve ele, a série da Netflix sobre a deslumbrada americana em Paris “é suave, lenta e relativamente monótona, os momentos dramáticos muito predeterminados para serem realmente dramáticos”.

Na verdade, a série é pior do que isso, mas o conceito de “TV ambiente” resume bem demais este tipo de produção inofensiva, afeita a riscos, que preenche o tempo, mas não acrescenta nada além disso.

Duas produções brasileiras foram premiadas nesta segunda (23) com o Emmy Internacional, a novela “Órfãos da Terra” (Globo) e a série cômica “Ninguém Tá Olhando” (Netflix).

O Emmy Internacional é um prêmio dado anualmente pela indústria de TV americana a programas feitos fora dos Estados Unidos. Não tem a mesma importância do Emmy propriamente, julgado por milhares de profissionais, mas ainda assim os programas indicados passam pelo crivo de 900 jurados, diz a instituição.

A novela de Duca Rachid e Thelma Guedes, exibida em 2019 no horário das 18h, teve como ponto de partida a história de imigrantes sírios fugidos da guerra abrigados no Brasil. Mas avançou tratando, com sabedoria, de diferentes situações que envolviam intolerância religiosa, racismo, machismo, autoestima
corporal, entre outros temas.

Diferentemente de outras novelas que vestem o figurino da “TV ambiente”, “Órfãos da Terra” exigiu atenção do espectador, mesmo tendo terminado de forma um tanto quanto utópica resolvendo de forma positiva quase todos os conflitos.

“Ninguém Tá Olhando” também manifestou a ambição de ser mais do que TV ambiente, mas me pareceu apenas uma comédia boba e desinteressante. Sei que a série tem muitos fãs, que festejaram o Emmy, mas não em número suficiente para a Netflix, até agora, ter encomendado uma segunda temporada.

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