Uma das figuras mais populares do país, Silvio Santos faz 90 anos neste sábado totalmente isolado. O homem que criou uma das principais redes de televisão do Brasil está confinado em casa desde março, protegendo-se da pandemia de coronavírus. E não grava um programa inédito desde dezembro de 2019.
Por culpa dessas circunstâncias, “o pior ano de todos”, como estampou uma capa recente da revista Time, tem sido também um ano nada memorável para o empresário e o seu canal de TV.
Longe do público, que o transformou no que é, e exibindo reprises atrás de reprises de seu programa dominical, Silvio chega nesta data simbólica tendo vários problemas para resolver.
Com queda de receita e perda de audiência, o SBT passou 2020 torcendo para o ano acabar logo. Enxugou custos, demitiu funcionários, dispensou estrelas e criou muito pouco. A conquista mais notável, o direito de exibir jogos da Taça Libertadores, caiu no colo da emissora após um passo mal dado pela Globo numa negociação.
O SBT não foi o único que enfrentou problemas, diga-se, mas foi o canal em que o impacto da crise se fez mais visível.
Desde que comprou 30 minutos de programação semanal na TV Paulista, em 1960, para promover as vendas do carnê do Baú da Felicidade enquanto apresentava uma gincana de prêmios, Silvio sempre entendeu que a televisão era a maneira mais eficaz de comercializar os próprios produtos.
Até hoje, 60 anos depois, ainda faz isso, inundando a grade do seu canal com promoções, sorteios e produtos variados. Mas os resultados não são os mesmos.
Silvio acompanha e participa de tudo, dizem na emissora. Mas não está claro se tem uma boa ideia sobre como enfrentar alguns movimentos que continuarão a impactar a empresa em 2021.
Para quem olha de fora, o SBT não parece acompanhar no ritmo desejado as transformações no mercado de televisão, cada vez mais digital e voltado para serviços de streaming. Outra preocupação é com os continuados efeitos da crise econômica sobre a receita com publicidade e sobre o poder aquisitivo do seu público.
Ruim sob quase todos os aspectos, o isolamento de Silvio em 2020 pelo menos reduziu o fluxo de políticos do governo, que havia sido intenso no ano passado, em programas do SBT. E poupou o apresentador do olhar cada vez mais severo de parte do público com os seus comentários e gestos vistos como machistas e inconvenientes.
Silêncio e constrangimento
No dia 4 de dezembro, a revista Piauí trouxe uma reportagem com denúncias gravíssimas sobre o comportamento do ator, diretor e roteirista Marcius Melhem, acusado de assédio sexual e moral por atrizes da Globo, onde trabalhou por 17 anos.
A reportagem atinge também a Globo, ao apontar possíveis falhas nos seus mecanismos internos de investigação e controle de acusações de assédio aos funcionários.
Só na noite desta terça-feira o escândalo provocado pela publicação ganhou uma menção envergonhada no noticiário da própria Globo. A empresa disse que “não pode comentar publicamente nenhuma investigação desse tipo por ter assumido com todos os seus colaboradores um compromisso de sigilo do processo”.
A Globo pode estar impedida de comentar, mas não de noticiar os fatos. É o que o público sempre espera.
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