Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Por que, até agora, as previsões sobre o fracasso da Netflix deram errado

Analista já disse aos seus clientes que a plataforma, que diz não precisar mais de empréstimos, era uma empresa sem futuro

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Em julho de 2011, a Netflix decidiu separar o serviço de aluguel de DVDs do serviço de streaming e cobrar separadamente por cada um. Os assinantes ficaram furiosos (800 mil cancelaram seus planos), e as ações da empresa despencaram.

Em 30 de novembro daquele ano, o analista financeiro Michael Pachter disse aos seus clientes que a Netflix era uma empresa sem futuro e os aconselhou a vender as ações que tinham, então com valor unitário de US$ 6 (cerca de R$ 32).

A Bloomberg entrevistou Pachter na semana passada, quando a Netflix anunciou ter superado a marca de 200 milhões de assinantes no mundo e o preço de sua ação chegou a US$ 565 (cerca de R$ 3.000). A empresa tem hoje um valor de mercado estimado de US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,3 trilhão).

Celular e telefone na plataforma de streaming Netflix
Celular e telefone na plataforma de streaming Netflix - Olivier DOULIERY/AFP

O jornalista Lucas Shaw mostra que o analista financeiro cometeu três erros de avaliação.

Ele achou que os grandes conglomerados de mídia conseguiriam proteger o negócio da televisão por assinatura, o que acabou não ocorrendo.

Acreditou que quando as grandes empresas cancelassem os contratos de licenciamento de programas de sucesso com a Netflix, como “Friends”, “The Office” e outros, o serviço de streaming não seria capaz de produzir o próprio conteúdo.

Por fim, o analista avaliou que, para produzir novos programas, a Netflix precisaria se endividar continuamente.

Na semana passada, o serviço de streaming informou que não tem mais necessidades de empréstimos novos. “Eles estão muito mais saudáveis do que eu pensava”, disse Pachter ao site de notícias econômicas.

Ainda assim, o analista continua recomendando a seus clientes que vendam as ações de Netflix. Ele acha que a empresa só pode crescer até certo ponto e que precisaria elevar o valor da mensalidade em US$ 5 (cerca de R$ 27) e dobrar a base de usuários para atingir as metas a que se propõe.

Shaw escreve que, ao final de meia hora de conversa com Pachter, teve de perguntar se ele já teve problemas por estar tão errado sobre a empresa. O analista respondeu que não está nem um pouco preocupado. Muitas pessoas se enganaram sobre a Netflix, afirmou.

“Sou generosamente recompensado por todas as coisas sobre as quais estou certo”, diz ele. “A Netflix é como a pinta na [face da] Cindy Crawford.”

A cultura pede socorro

Com os salários atrasados por mais de três meses, um dos principais bailarinos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro se viu obrigado a fazer bico como motorista de Uber. Um porteiro, idoso, voltou a fazer serviços como pedreiro. Funcionários mais humildes sobreviveram graças a doações.

“A gente passou a dançar por arroz, por feijão, por cesta básica”, diz Marcia Jaqueline, a primeira-bailarina, depois de decidir deixar a companhia e aceitar um trabalho na Áustria.

Esse retrato devastador da situação de penúria enfrentada pelos funcionários do Theatro Municipal do Rio entre 2017 e 2018 é o tema do documentário “Ressaca”, que entra hoje nas plataformas de streaming Net Now, Oi Play e Vivo Play.

Premiado no Festival do Rio em 2019, o filme ganhou no final do ano passado o Emmy Internacional, dedicado a programas de televisão, na categoria de programação de arte. Produção franco-brasileira, dirigida por Vincent Rimbaux e Patrizia Landi, o filme se habilitou ao Emmy ao ser exibido na TV francesa, com o título “Vertige de la Chute”, ou vertigem da queda. Em abril, chega ao Canal Brasil.

Não é dos programas mais agradáveis de ver, mas ajuda a vislumbrar os danos irremediáveis que um governo —no caso, o do estado do Rio de Janeiro— pode causar.

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