Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Huck escreveu um livro

Obra parece o cartão de visitas de um candidato

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A primeira vez que Luciano Huck avisou ao público que havia lançado um livro foi ao final do programa de 21 de agosto, um sábado. "Gostaria que você lesse. Escrevi com o maior carinho", pediu aos espectadores.

Uma semana depois, aproveitando que um participante de um jogo era um ex-catador de lixo que pretendia estudar medicina, o apresentador disse: "Escrevi um livro". Emendou com uma propaganda da megaloja que está também comercializando a obra. E disse ao jovem: "Vou dar de presente, já que você gosta de ler".

Foi o último "Caldeirão do Huck", exibido ao longo de 21 anos na Globo. Oito dias depois, o apresentador estreou o "Domingão com Huck", substituindo Fausto Silva, que comandou os domingo por 32 anos.

"Já que você gosta de ler, posso dar uma dica de leitura? Meu livro acabou de sair. Lancei faz 15 dias", disse Huck a um outro candidato do game "Quem Quer Ser um Milionário?", que se mudou para o domingo com ele.

No segundo episódio do programa, no dia 12, Huck voltou a avisar: "Eu queria dar uma dica para vocês de leitura. É um filhote superimportante para mim. Escrevi cada página desse livro com o maior carinho. Lê. Me dá esse voto de confiança".

Até agora, já são quase cinco minutos de autopropaganda, sem que tenha ocorrido contrapartida, como a divulgação de livros de outros autores.

Não creio que Huck ambicione enriquecer com a venda de um livro. O desejo de dar visibilidade a "De Porta em Porta" (ed. Objetiva, 232 págs., R$ 49,90) obedece a outros interesses.

A obra mistura relatos autobiográficos com reflexões sobre educação, meio ambiente e distribuição de renda. Os capítulos "Da Porta para Dentro" ajudam a fixar a imagem de Huck como um homem de fé, tolerante e aberto em matéria de religião e sexualidade. É alguém que superou o "machismo estrutural", antirracista, um bom filho, ótimo pai e marido afetuoso.

Por falta de espaço, talvez, o relato biográfico parece incompleto e os leitores interessados em histórias mais picantes do apresentador terão que aguardar uma biografia não oficial.

Já os textos "Da Porta para Fora" mostram um Huck bem-relacionado com grandes pensadores, empresários preocupados com a miséria e figuras interessadas em renovar a política.

"De Porta em Porta" parece muito um cartão de visitas de alguém determinado a voos mais altos na vida pública. Um candidato a algo. Sem jamais se comprometer afirmativamente, Huck vem alimentando há anos a expectativa de que poderia, um dia, concorrer à Presidência. Ainda pode.

Em junho deste ano, anunciou que aceitou substituir Faustão. Trouxe dos sábados os quadros de cunho assistencialista. A audiência do dominical tende a ser superior à dos sábados, e o público é mais diversificado.

Quem se aventurar pelo livro que Huck tanto alardeia na TV verá que ele critica a "má liderança" de Bolsonaro na gestão da pandemia e defende uma "coalização que seja capaz de superar a polarização política".

Informa, ainda, que construiu "uma boa relação com as Forças Armadas" e aposta num programa de renda básica --"não é algo de direita ou de esquerda"-- personalizado, que atenda às necessidades específicas de cada indivíduo.

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