Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Será que a direção de A Fazenda concorda com a expulsão de Nego do Borel?

Patrocinadores do reality poderiam ter se pronunciado antes da saída do participante, que tem histórico de acusações

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O espectador que manifesta em voz alta o seu descontentamento com a programação da TV costuma ouvir de volta uma sugestão antipática: “muda de canal”. E, como ele raramente faz isso, a sua reclamação não costuma produzir efeito.

O meio mais eficaz de melhorar a TV aberta no Brasil, sempre defendi, passa pela outra perna que mantém o meio —o anunciante. E isso pode ocorrer de duas formas.

Uma é por meio da pressão sobre as empresas que anunciam em programas de baixa qualidade. O movimento Sleeping Giants Brasil, por exemplo, está fazendo isso muito bem ao constranger publicamente quem expõe suas marcas em atrações que difundem preconceitos, discurso de ódio e fake news.

Outra forma mais persuasiva, ainda que rara, ocorre quando as próprias marcas reúnem coragem para pressionar diretamente os canais de televisão. Este ano já houve ao menos dois movimentos visíveis nesta direção.

O primeiro, ainda leve, deu-se durante a 21ª edição do "BBB". Diversos patrocinadores transmitiram à Globo preocupação com situações de “terror psicológico” que estavam ocorrendo no programa. A emissora abriu uma “sala de escuta” para ouvir as marcas.

“Não compactuamos com comportamentos que levam à exclusão e ao desrespeito”, reagiu publicamente a Amstel. “Nós fomos cobrados nas mídias sociais pela opinião pública, dado nosso compromisso como anunciante”, revelou a Avon.

Neste final de semana houve um movimento mais ruidoso, tendo como alvo outro reality show, “A Fazenda”, da Record. Na madrugada do último sábado, após uma festa, o cantor Nego do Borel foi acusado por espectadores de ter cometido abuso sexual contra a modelo Dayane Mello. Por volta das oito da manhã, a hashtag “Estupro na Fazenda” já dominava o Twitter.

Em resposta, os seis principais patrocinadores se manifestaram em termos duros sobre o ocorrido. “Não há espaço para violência ou assédio, seja online, na televisão ou pessoalmente”, avisou o TikTok. “Repudiamos veementemente qualquer tipo de violência”, disse a Seda.

“Não vamos aceitar que atitudes que violem os direitos das mulheres [...] passem impunemente”, informou a Aurora Alimentos. O banco Original relatou que “exigiu” um posicionamento da Record.

O mesmo verbo foi usado pela Americanas: “Exigimos que a emissora, que tem acesso às informações, trate o caso com seriedade e celeridade para a tomada de decisão cabível”. Já a Ambev pediu que a emissora adotasse “medidas imediatas sobre o caso e também fosse dada assistência jurídica e psicológica imediata à participante”.

Creio que um movimento dessa magnitude seja inédito na TV. Às 18h30, a Record capitulou. Em comunicado, a emissora informou que “decidiu pela retirada de Nego do Borel da competição”. Às 22h30, no programa que exibiu a situação, a emissora evitou mostrar as imagens mais comprometedoras e o áudio em que se ouve a modelo rejeitando o cantor. Dayane surgiu constrangida em uma entrevista, feita por um homem, ao longo da qual disse não se lembrar do que ocorreu na noite anterior.

Fiquei com a impressão de que a direção do reality não estava convencida sobre a necessidade de excluir o cantor.

Sobre os protestos dos patrocinadores, cabe dizer que poderiam ter ocorrido mais cedo, assim que foram anunciados os participantes do programa, no início do mês.

Nego do Borel já acumulava um histórico de acusações de violência contra mulheres antes de entrar na “Fazenda”.

Como já havia ocorrido em outras edições, a direção considerou que um participante com esse perfil seria atraente, seja pelas “polêmicas” que causaria, seja pela chance de “redenção” que oferecia. Deu errado.

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