Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Morte da TV a cabo, por força do streaming, será como a do telefone fixo

Resta saber se consumidores vão se afastar da TV paga de forma lenta ou se ela desmoronará abruptamente

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O fim da TV a cabo vem sendo anunciado há muitos anos, mas nunca foi previsto de forma tão clara quanto na semana passada, na newsletter sobre tecnologia que a jornalista Shira Ovide mantém no jornal The New York Times: "A TV a cabo é o novo telefone fixo".

Ela descreve, claro, a situação do mercado americano. Há uma década, cerca de 85% dos lares dos Estados Unidos pagavam por pacotes de canais de TV por assinatura (cabo ou satélite). Hoje, a parcela de lares americanos que pagam por serviços desse tipo está se aproximando de 50%.

Para efeito de comparação, diz ela, os telefones celulares existiram por décadas antes que a porcentagem de americanos que não tinham telefone fixo em casa chegasse a 50%, por volta de 2017. Hoje, segundo dados do governo, somente um terço dos adultos americanos têm telefone fixo.

Telefone fixo em escritório da Philips, em São Paulo - Rodrigo Capote - 3.dez.10/Folhapress

Por isso, ela considera inevitável e previsível que a TV a cabo siga o caminho do telefone fixo. Mas faz uma ressalva: "velhos hábitos custam a morrer", escreve, lembrando que indústrias antigas que enriquecem muita gente são mais difíceis de morrer.

No Brasil, os dados sobre a erosão da base de clientes também apontam para baixo. Segundo o jornalista Samuel Possebom, do site Teletime, o número de assinantes de TV paga em novembro de 2021 foi de aproximadamente 13,3 milhões. Isso significa uma perda de 1,3 milhão de assinantes no ano (os dados de dezembro ainda não estão disponíveis).

Em 2020, registrou-se a perda de 830 mil assinantes e, em 2019, de 1,8 milhão de clientes. Desde novembro de 2014, quando chegou a 19,7 milhões de assinantes, o mercado está em declínio.
O mercado se adapta e se move.

Diante da concorrência da Netflix e de outras plataformas de streaming, as empresas que atuam como operadoras de TV por assinatura compensam as perdas vendendo pacotes de dados de internet.

Detalhe da faixada da sede da Netflix em Los Angeles, na Califórnia - Mario Tama - 7.out.21/AFP

Grandes produtores de conteúdo, como HBO, Disney e Globo passaram a oferecer diretamente ao consumidor, em suas próprias plataformas, os mesmos programas disponíveis nos pacotes de TV paga.

"Está claro que o sistema de TV a cabo que durante décadas trouxe alegria e dores de cabeça a dezenas de milhões de americanos está se esgotando", escreve Shira Ovide. A dúvida, diz ela, citando um analista de investimentos, é se os americanos continuarão a se afastar da TV paga de forma relativamente lenta ou se ela "desmoronará abruptamente".

Viva Nara!

"O Canto Livre de Nara Leão", série documental em cinco episódios dirigida por Renato Terra, é comovente e empolgante. Primeiro, por reconstituir a trajetória de uma cantora sempre interessada em ouvir o novo, sem necessariamente abandonar o velho, mas buscando as conexões entre os diferentes.

Nara Leão (1942-1989) viu a bossa nova nascer, depois abraçou o samba e a militância política, estendeu a mão à jovem guarda e ao tropicalismo. Sempre gravou artistas promissores, mas não consagrados.
Foi uma mulher moderna, feminista, firme, que rejeitou imposições e ordens vindas de cima, seja do figurinista da televisão, dos executivos das gravadoras de discos ou dos militares que quiseram prendê-la durante a ditadura.

Todo esse percurso é revisto com a ajuda de uma pesquisa de imagens e áudios primorosos, que evocam um Brasil mais bonito, elegante e criativo. Mas não é nostalgia que a série provoca. "O Canto Livre de Nara Leão" faz acreditar, por algum efeito mágico, que existe um futuro pela frente.

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