Depois de um 2021 muito ruim, Silvio Santos começou 2022 com más notícias. Da Flórida, nos Estados Unidos, onde passa as férias costumeiramente, deve ter sentido o puxão de orelhas que levou de um magistrado da 3ª Vara do Trabalho, em Osasco, na Grande São Paulo.
Num caso que mistura cobrança de direitos trabalhistas e acusação de assédio moral, o dono do SBT foi recriminado pelo juiz Ronaldo Luís de Oliveira pelo modo como trata mulheres no palco do seu programa.
Ao dar a sentença. Oliveira criticou o "comportamento claramente misógino" de Silvio numa interação com a jornalista Rachel Sheherazade, ocorrida em 2017, durante o Troféu Imprensa.
Ela reclamou que havia sido proibida de dar a sua opinião nos telejornais da emissora. Ele respondeu: "Se você quiser fazer política, compra uma estação de televisão e vai fazer por sua conta; aqui não". Sheherazade insistiu, dizendo que havia sido contratada por causa de suas opiniões. O que levou Silvio a dizer: "Não. Chamei para você continuar com a sua beleza, com a sua voz, foi para ler as notícias no teleprompter e não foi para você dar a sua opinião".
O juiz disse que Silvio comportou-se "de forma muito deselegante e abusiva", criticou o "descaso" com a jornalista, recordou que "não é a primeira vez" que o apresentador se envolveu em "situações semelhantes" e evocou a responsabilidade de ser alguém tão influente: "Suas palavras geram, algumas vezes, repercussões além do ordinariamente esperado".
Duro, Oliveira disse que não pode aceitar "as desculpas que são dadas a comportamentos similares". Afirmou que "ser idoso ou 'brincalhão' não pode servir de passe para a prática de atos nitidamente preconceituosos".
E concluiu o pito: "Precisamos evoluir como nação, com respeito a todos".
Trata-se de uma sentença em primeira instância, que ainda pode ser revista, mas permanecerá como o registro de uma bronca histórica no dono de uma das maiores redes de televisão do país.
O pito levado por Silvio ocorre num momento crítico. Uma questão é a sua volta a um estúdio. Sem gravar desde o final de 2019, passou 2020 em casa, confinado. Após tomar as duas doses da vacina, retornou em julho de 2021, mas contraiu a Covid em agosto e não mais voltou à TV.
Menções sobre a aposentadoria de Silvio, que fez 91 anos, voltaram a ser feitas, uma até abertamente, depois que Patrícia Abravanel, em setembro, começou a gravar o programa do pai. A própria filha tratou de desmentir a informação.
A pandemia e a retração econômica também afetaram os negócios da televisão. A emissora de Silvio, como outras, sentiu o impacto e promoveu vários cortes. Poucos investimentos foram feitos em programação, com reflexos nos números de audiência. Mudanças abruptas e inexplicáveis na grade continuam ocorrendo, o que também atrapalha.
Os dados da Kantar Ibope referentes a 2021 deixam claro o estrago para o SBT. Na Grande São Paulo, a emissora de Silvio Santos caiu de uma média de 5 pontos em 2020 para 4,3. Já a Record, ao se manter com uma média de 4,8 pontos, passou a vice-líder. No chamado PNT, que reúne dados de 15 grandes centros urbanos, o SBT foi de 4,3 pontos para 3,6, e a Record permaneceu estável com média de 4,4 pontos.
Em dezembro, Silvio recebeu em casa uma nova visita do presidente Jair Bolsonaro. Eles haviam se encontrado um ano antes, no mesmo lugar. O ministro das Comunicações, Fabio Faria, casado com Patrícia, acompanhou o presidente nas duas visitas. Outros quatro ministros participaram do mais recente encontro. Todo mundo sem máscara.
A única boa notícia em janeiro talvez tenha sido a entrada de Tiago Abravanel, seu neto, no "BBB", da Globo. Ele tem feito, até o momento, uma boa propaganda subliminar do avô e de sua emissora.
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