Mauro Calliari

Administrador de empresas pela FGV, doutor em urbanismo pela FAU-USP e autor do livro 'Espaço Público e Urbanidade em São Paulo'

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Descrição de chapéu transporte público

Próxima estação: Coca-Cola

Penha-Lojas Besni, Saúde-Ultrafarma; como os naming rights das estações do Metrô podem colocar em risco o sentido dos lugares

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Os passageiros mais atentos já notaram e estranharam: a estação Penha do Metrô ganhou em junho um sobrenome: Lojas Besni. Ela vem se juntar às estações Saúde-Ultrafarma e Carrão-Assaí Atacadista. É o resultado de uma estratégia chamada ‘naming rights’, usada por empresas. Nos estádios de Corinthians e Palmeiras, por exemplo, Neo Química e Allianz pagam para nomear os estádios e divulgar suas marcas.

Algumas cidades no mundo já adotam esse tipo de ação em suas estações de Metrô —em Nova York, o banco inglês Barclays pagou US$ 4 milhões para associar seu nome à estação Atlantic Avenue, pertinho da sua arena esportiva. No Rio de Janeiro, desde o ano passado, é possível descer na estação Botafogo Coca-Cola. Em 2021, São Paulo também aprovou uma política para permitir que empresas paguem para colocar seu nome junto das estações pagando um valor mensal.

Bilheteria da estação Penha da linha 2-vermelha do Metrô
Bilheteria da estação Penha da linha 2-vermelha do Metrô - Rubens Cavallari - 25.mar.2020/Folhapress

Se a prática é comum na iniciativa privada, no serviço público o assunto é um pouco mais delicado e enseja algumas dúvidas. O que os passageiros ganham com isso? O que a cidade ganha com isso?

Para o Metrô, trata-se de uma receita adicional. Não é grande o suficiente para ajudar a subsidiar tarifas, mas ajuda a manter uma empresa que presta serviços essenciais e está em sérias dificuldades. A pandemia reduziu o número de passageiros e a companhia teve um prejuízo gigante, de mais de 1,7 bilhões em 2020. Com a queda nas receitas de tarifas, cresceu a importância das chamadas receitas ‘não tarifárias’ —concessão, publicidade, aluguéis— que chegaram a 11% do total.

As primeiras três estações concedidas vão gerar aproximadamente R$ 100 mil por mês cada, menos de 3% disso. É pouco mas o valor pode crescer muito com a licitação das próximas estações —Consolação, Clínicas, Brigadeiro e Santana. Se cada real faturado for usado para garantir segurança, manutenção, limpeza e eficiência no funcionamento dos trens, talvez faça sentido.

Para os passageiros do Metrô, as mudanças poderiam, em tese, piorar a orientação visual e gerar alguma confusão. Conversei com o consultor e mobilidade Sérgio Avelleda. Ele pondera que a prioridade deveria ser sempre a facilidade de orientação dos passageiros em seus deslocamentos. Assim, não deveria haver mudança nos mapas das estações, aqueles que estão em todos os vagões, para garantir que o passageiro reconheça rapidamente aonde vai descer ou onde vai fazer a troca.

As mudanças deveriam também se restringir à área das estações. A respeito disso, o Metrô comunica que a mudança foi aprovada na Comissão de Proteção à Paisagem, um órgão que decide o que pode e o que pode ser veiculado na cidade, com uma hierarquia clara: nas placas, o nome da empresa fica sempre menor do que o da estação original.

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