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Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.

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Alta do dólar só deve afetar dívidas de empresas indiretamente, diz Fitch

Agência avaliou como o balanço de 56 empresas seriam afetados se moeda americana subisse mais

Maria Cristina Frias

A oscilação cambial poderá ter impacto indireto, no ambiente de negócios, e não direto na alavancagem de empresas, segundo a Fitch, que analisou as companhias mais expostas a dívidas no exterior.

A agência avaliou como o balanço do segundo trimestre de 56 empresas seriam afetados se o dólar estivesse 20% e 30% mais alto que em 30 de junho, quando atingiu R$ 3,87.

InterCement e Gol seriam as mais impactadas —elas não comentam as projeções.

Cédulas de dólares - Marcelo Fonseca - 6.jun.18/Folhapress

O dólar chegou a um pico de R$ 4,19 em 13 de setembro deste ano. A maior parte das grandes empresas está bem protegida desse tipo de flutuação, afirma Ricardo Carvalho, diretor da Fitch.

“Muitos se anteciparam em relação ao vencimento de dívidas em 2018 e 2019 e carregaram mais liquidez em seus balanços [têm mais dinheiro em caixa]”, diz ele.

“O impacto da mudança de risco com alterações no câmbio é mais no ambiente de negócios porque é algo que pode chegar na inflação, afetar o patamar de juros e pressionar os custos financeiros.”

O tom da disputa eleitoral deste ano levou a uma proteção ainda maior por parte das companhias, diz Marcos Piellusch, da FIA (Fundação Instituto de Administração).

“Os personagens da eleição são muito diferentes, o que levou empresas a usarem mais o hedge [instrumento para suavizar flutuação cambial].”

As empresas mais expostas à oscilação cambial têm em comum o uso limitado de hedge, endividamento elevado em moeda estrangeira e geração de receita em reais.

 

Fogo, caneta e barba

A BIC, fabricante de canetas, isqueiros e barbeadores, quer manter sua produção estável em 1,3 bilhão de unidades anuais em 2019, apesar da redução de seu portfólio em cerca de 30%.

A empresa tem sofrido com a desvalorização cambial. Dos seus produtos vendidos no país, 90% são feitos em sua fábrica em Manaus, mas 60% dos insumos são importados.

“Quase todo o plástico vem de fora. A depender do câmbio, poderá haver alta no preço, mas temos buscado melhorar a distribuição e vender diretamente a redes de varejo regionais”, diz o CEO da marca no país, Olivier DeBruyn.

A companhia reduziu seu estoque e reestruturou seu canal de vendas para evitar eventuais guerras de preço entre fornecedores.

“Detectamos que havia atacadista que chegava a praticar preço menor que distribuidores”, diz.

A BIC deverá crescer 2% em receita neste ano, após uma queda de 1,5% em 2017.

A companhia vai investir R$ 60 milhões em sua planta em Manaus no ano que vem. O aporte será destinado à melhoria de infraestrutura de suas categorias de produtos.

R$ 800 milhões
é a receita anual no Brasil

 

Sem cinto de segurança

A Oi e a Sabesp estão entre as empresas com dívidas em moedas estrangeiras que não fizeram hedge cambial.

A companhia de telefonia não tem, nesse momento, contratos de derivativos para se proteger da flutuação do dólar. O Conselho de Administração aprova uma política para o tema a cada ano.

“Tal situação não é preocupante dado o perfil de vencimento de longo prazo da dívida”, informa a Oi, em nota.

Com a aprovação do plano de recuperação judicial, as obrigações financeiras da empresa foram reescalonadas.

A Sabesp tem folga nos indicadores de alavancagem que a permitem ficar sem hedge.

A estatal não procura os contratos porque tem acesso a linhas de crédito de órgãos multilaterais que financiam investimentos em saneamento a juros subsidiados.

Como o serviço da dívida é baixo, ela se expõe a um risco maior, diz Mário Sampaio, superintendente de captação e de relações com investidor.

“A proteção teria custo de 5% do valor da dívida em moeda estrangeira. Isso equivale a R$ 300 milhões por ano.”

Não há muitos contratos em dólar que vencem em 2018.

 

Aos candidatos
Ronaldo Koloszuk, presidente do conselho da Absolar

Alterar os incentivos fornecidos para geração distribuída (que permite ao consumidor produzir a própria energia e gerar créditos) traria insegurança jurídica a um mercado incipiente, segundo a Absolar (que representa o setor).

Manter as regras atuais da Aneel (agência reguladora) que garantem o benefício é uma das principais demandas para os presidenciáveis, diz Ronaldo Koloszuk, à frente do conselho da entidade.

Outros pedidos são novos leilões que incluam a fonte fotovoltaica e mais alternativas para que pessoas possam instalar sistemas em suas casas.

“É preciso ter mais linhas de financiamento. Muitos bancos privados têm sido mais atrativos que os públicos.”


Principais demandas da Absolar aos presidenciáveis

  • Instalação de 1,5 milhão de telhados solares até 2022
  • Manutenção da norma que prevê compensação tributária para geração distribuída

R$ 5,5 bilhões
foram investidos no setor em 2017

0,8%
é a representatividade na matriz energética brasileira

Fontes: Absolar e Aneel

 

Fé no futuro  A expectativa de vendas dos varejistas do estado de São Paulo aumentou em setembro, aponta a Fecap. Houve alta de 3,6% do índice na comparação com o mesmo mês do ano passado, e de 3,8% em relação a agosto. 

Varejo... A rede de supermercados Guanabara investirá R$ 35 milhões em logística para seu período de aniversário, que terá 2.000 entregas diárias por 43 dias. A companhia vai contratar 4.000 funcionários para a operação.

...fluminense O montante aportado é 16,7% maior que o empregado no ano passado. A expectativa da empresa é registrar um aumento de 70% no fluxo de clientes durante esse período em suas 26 unidades. 

 

com Felipe Gutierrez, Igor Utsumi e Ivan Martínez-Vargas 

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