A mobilidade social reflete características importantes sobre o funcionamento de uma sociedade. Por meio do seu estudo, é possível avaliar a probabilidade de os indivíduos migrarem de posição social ao longo do tempo.
No caso brasileiro, sabe-se que os filhos de famílias pobres apresentam baixa chance de progredirem. Por sua vez, os de famílias ricas costumam herdar o status social da família.
Nesse âmbito, de forma sistemática, estudos demonstram que a história dos filhos está altamente associada com a trajetória dos pais.
Isso ocorre porque os atributos individuais dos filhos que afetam a renda e apresentam uma associação com os dos pais têm potencial de influenciar a transmissão intergeracional do sucesso econômico.
A maioria dos estudos foca no papel da educação. Entretanto, existem outras variáveis importantes como, por exemplo, características comportamentais, raça, personalidade, percepção de beleza, altura, riqueza e localização geográfica.
No que diz respeito ao comportamento, existem diversos canais teóricos que podem ser explorados.
Um deles se refere ao padrão reprodutivo. As mulheres ricas tendem a iniciar a maternidade mais velhas e a ter poucos descendentes. As pobres têm o primeiro filho relativamente jovens e costumam apresentar maior fecundidade.
Deste modo, a pobreza na geração dos pais influencia o tamanho da família. Por sua vez, isso representa um fator que compromete as oportunidades das crianças.
A estrutura familiar não deve ser vista como a causa da pobreza, mas como um reflexo. Entretanto, a quantidade de filhos pode amplificar as desigualdades existentes, tornando-se um mecanismo relevante pelo qual a pobreza é transmitida entre gerações.
A interação intergeracional entre a educação e o padrão reprodutivo faz com que o desafio de criar melhores oportunidades de desenvolvimento para a população vulnerável seja ainda mais complexo.
Este fato foi abordado em modelo teórico desenvolvido por Michael Kremer, prêmio Nobel de economia, e Daniel Chen (Income Distribution Dynamics with Endogenous Fertility, 2002).
O modelo parte do fato de que países desiguais costumam apresentar alto diferencial de fecundidade. Os ricos tendem a ter poucos filhos e investem na educação.
Os pobres têm mais filhos e acabam investindo pouco na educação. Deste modo, tem-se uma ampliação na quantidade de trabalhadores com baixa qualificação nos períodos seguintes. Isso resulta em salários baixos e faz com que o custo de oportunidade de ter filhos não seja elevado.
Desta forma, isso cria um ciclo vicioso pelo qual o status socioeconômico é reproduzido entre as gerações.
O modelo sugere que uma melhora nas oportunidades educacionais apresenta o potencial de reduzir permanentemente a desigualdade.
Além disso, existe alto índice de gravidezes indesejadas entre mães pobres. Assim, políticas que visam garantir os direitos reprodutivos das mulheres têm importantes implicações em termos de desenvolvimento (Fecundidade e Dinâmica da População Brasileira, 2018).
A ciência tem sugerido caminhos para melhorar a sociedade. Porém, precisamos de líderes competentes para mudarmos a história.
O título representa duas homenagens. Uma para a música Como nossos pais, de Antônio Belchior. Outra para Nathaniel Rocha, mestrando em economia no IPE-USP e que também tem grande admiração pelas composições do cantor. Descendente de uma família nordestina pobre, Rocha quase abandonou o mestrado e voltou para o Ceará para trabalhar e ajudar a sustentar os irmãos.
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