Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França

Para muitos, o futuro do trabalho não é promissor

O progresso tecnológico está reconfigurando o mundo do trabalho

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Durante alguns períodos da história brasileira, houve intensos fluxos migratórios de nordestinos. Eles abandonavam suas terras e iam para outras regiões do país com a expectativa de melhorar suas condições de vida. Muitos apresentavam baixa qualificação e, portanto, representavam uma mão de obra barata que era usada para suprir a demanda dos mais variados serviços braçais. Por meio de expressivo empenho, alguns conseguiram prosperar.

Essa forma de ascender socialmente é mais difícil no cenário contemporâneo. A taxa de desemprego está alta em vários países do mundo e atinge fortemente os trabalhadores de baixo nível educacional e a juventude. Existem inúmeros desafios para conseguir trabalho. Mesmo aqueles que estão empregados tendem a apresentar dificuldades para garantir um padrão de vida decente para suas famílias.

Funcionário da Amazon prepara uma encomenda em depósito da empresa nos Estados Unidos - Clodagh Kilcoyne/Reuters

Ao mesmo tempo, o mundo do trabalho está mudando rapidamente. Depois da Segunda Guerra Mundial, os avanços tecnológicos ajudaram os trabalhadores a se tornarem mais produtivos. Consequentemente, eles passaram a usufruir da maior renda que era gerada pelo crescimento econômico.

Entretanto, a Era de Ouro do Capitalismo durou pouco. Depois de alguns anos, muitos ficaram para trás. O progresso tecnológico se intensificou e reconfigurou a maneira como trabalhamos. Para atender às novas demandas do mercado, passou a ser necessário um contínuo e alto investimento na formação das pessoas.

O sistema educacional de vários países não conseguiu acompanhar as mudanças. Muitas ocupações começaram a ter considerável lacuna entre as competências necessárias para exercer bem as funções e aquelas que os indivíduos possuem. Com isso, a tecnologia passou a desempenhar um papel relevante no aumento da desigualdade. Pesquisas econômicas recentes têm apontado nessa direção.

Em uma delas, Daron Acemoglu e Pascual Restrepo documentaram que, nas últimas quatro décadas, houve declínios salariais dos trabalhadores especializados em tarefas rotineiras nas indústrias que tiveram rápida automação. Por sua vez, isso explica parcela expressiva das mudanças na estrutura salarial americana (Tasks, Automation, and the Rise in US Wage Inequality, 2022).

No Brasil, em um artigo publicado na revista Quatro Cinco Um, Leonardo Monasterio e Willian Adamczyk revisitaram a literatura: os estudos especializados no assunto apontam que entre 45% e 60% da mão de obra no setor formal desempenha atividades que podem ser automatizadas no futuro (Desemprego high-tech, 2022).

Desse modo, o desafio atual nessa agenda é pensar as melhores soluções para garantir a inclusão produtiva de muitos trabalhadores que, em breve, poderão ser descartados pelo mercado. Uma das possibilidades é ajudar os indivíduos que ficarão sem trabalho nos próximos anos a desenvolver novas competências. Para esse fim, existem diversos programas de treinamentos oferecidos por governos e ONGs.

Contudo, a maioria deles ainda não foi avaliada e, portanto, apesar de eles geralmente possuírem alto custo, seus resultados permanecem desconhecidos. Além disso, sabe-se que o sucesso de um programa em determinado contexto não implica que terá o mesmo efeito em outro.

Apesar das diversas iniciativas para oferecer boas respostas para os desafios do emprego, ainda há muito o que precisamos aprender para desenhar melhor políticas públicas e auxiliar os gestores em direções mais promissoras.

Grande enfoque tem sido dado nos países desenvolvidos para entender o futuro do trabalho e os possíveis impactos da automação. No entanto, o mesmo não pode ser dito do restante do mundo. Em países de renda baixa e média, ainda se dá relativamente pouca atenção para compreender os efeitos de um processo que já está remodelando a forma que vivemos.

O texto representa uma homenagem à música "Zé Brasileiro", de Candeia e Rappin Hood.

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