Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França

Nossa pequena luz, vamos deixar brilhar

Cuidar das pessoas é um dos melhores caminhos para induzir progressos sociais substantivos

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O principal legado que deixaremos no mundo não é marcado pelas posições sociais que atingimos, mas pelo impacto que tivemos nas vidas das pessoas. Assim como herdamos dos nossos antepassados as repercussões de seus atos, deixaremos para as futuras gerações os frutos de nossas ações.

O papel de cada um de nós em uma sociedade vai além do que muitos têm feito. Nosso propósito aqui é maior do que correr atrás do próprio interesse. Não que isso seja um problema. Afinal, é o autointeresse que move o mundo.

Mas podemos avançar conjuntamente com um pouco mais de solidariedade e compaixão ao próximo. Cuidar das pessoas não deve ser visto apenas como uma expressão da bondade humana, mas também como um meio de preencher aquele vazio existencial que muitos de nós sentimos, além de ser um dos melhores caminhos para induzir progressos sociais substantivos.

Pessoas muito próximas umas às outras protestam no meio da rua; em uma placa colorida no meio da multidão é possível ler "Greve pelo Futuro"
Protesto climático do Fridays For Future, em outubro, na Suíça - 22.out.2021 - Arnd Wiegmann/Reuters

Além disso, precisamos procurar influenciar as transformações que queremos. Abster-se de enfrentar aquilo com o que não concordamos significa deixar que a inércia leve a natural reprodução do que está posto.

Todos, independentemente da idade ou classe social, possuímos potencial de realizar grandes feitos nas próprias histórias e nas das outras pessoas. No entanto, as circunstâncias muitas vezes dificultam-nos atingir tudo aquilo que poderíamos alcançar.

É bem comum que, apesar do esforço, várias de nossas ações não surtam o efeito desejado. Isso costuma gerar um sentimento de frustração. Porém, não há espaço para falta de esperança.

Em parte, a construção de uma sociedade mais próspera precisa ser encarada como um processo contínuo pelo qual os cidadãos passam a assumir maiores responsabilidades e, ao mesmo tempo, procuram usar todos os seus talentos para ajudar uns aos outros.

Nessa construção coletiva, um bom objetivo a ser perseguido é procurar desenvolver iniciativas que gerem o maior benefício social possível a um menor custo e, para que isso ocorra, também precisamos lidar de forma assertiva com vários dilemas que envolvem nossas escolhas.

Cada cidadão tem interesses e opiniões distintas no que diz respeito ao conjunto de decisões que afetam a sociedade. Nesse contexto, o atual processo de inclusão de indivíduos de diferentes grupos sociais nos mais variados espaços tende a contribuir para a geração de melhores perspectivas e para a concepção de novas propostas.

No que se refere à formulação de políticas públicas, sabe-se que o sucesso de muitos programas costuma estar nos detalhes. Assim, a incorporação de diferentes visões de mundo na formulação de novas intervenções tende a ajudar no processo de desenho de iniciativas mais efetivas.

Porém, apesar da boa intenção, muitas iniciativas voltadas para impactar a vida das pessoas acabam não funcionando da forma esperada. Avaliá-las e procurar descobrir as que estão oferecendo maior retorno para a sociedade é um dos caminhos a serem seguidos.

É preciso ir além das nossas próprias crenças e confrontá-las com fatos e evidências. Somente a especulação generalizada sobre quais intervenções funcionam não ajudará a chegar muito longe. No final, o que deveria importar é o impacto que determinada iniciativa teve nas vidas das pessoas, não nosso juízo de valor.

Já dizia Lavoisier que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Com essa perspectiva, costumo pensar que, quando partimos dessa breve jornada chamada vida, a única parte de nós que restará na Terra será a ressonância da força transformadora que nossas ações tiveram nas trajetórias das pessoas e das futuras gerações.

O título é uma homenagem à música "This Little Light of Mine", de Raffi Cavoukian e Kenneth Whiteley, interpretada por Odetta.

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